Hugo Chávez era o líder democrático mais longevo da história recente da América Latina
O venezuelano ocupava o cargo desde 1999 e era o líder democrático mais longevo da história recente da América Latina, tendo sido reeleito para o quarto mandato consecutivo no último mês de outubro. O período terminaria em 2019.
Foi a terceira vez em que ele foi eleito para um mandato com duração de seis anos, regra criada pela nova Constituição, aprovada em 1999, um ano após a chegada ao poder. Na última votação, o venezuelano teve 55% dos votos, com comparecimento de 81% do eleitorado. Ele venceu em 22 dos 24 Estados.
Em 2009, o presidente promoveu um referendo sobre o fim da limitação ao número de mandatos políticos, e chegou a falar sobre se manter no governo até 2021, ou mesmo 2030.
Sob Chávez, a Venezuela teve uma redução da pobreza de 49,4% para 27,8%. A redução da desigualdade foi maior que a dos anos Lula no Brasil. Mas o mandatário também sofreu críticas por má gestão e pela violência.
Um dos maiores trunfos de Chávez na última eleição era o programa "Gran Misión Vivienda", uma espécie de versão custo zero (sem financiamentos) do programa brasileiro Minha Casa, Minha Vida que conta com, segundo números do governo da Venezuela, 272 mil beneficiários.
O programa gerou imensa esperança – mais de um terço do eleitorado diz estar na fila para receber a casa.
Chávez concorreu contra Henrique Capriles, 40, o ex-governador do populoso Estado de Miranda que representava uma mudança geracional no antichavismo e comandava as maiores reuniões populares opositoras desde 2004 com discurso centrista e de críticas à gestão do governo.
Por volta dos anos 60, a Venezuela, antes um canto sonolento da América do Sul, governada por sucessivos ditadores, havia se tornado uma democracia incipiente, com crescentes receitas petroleiras e fome de modernidade.
Uma nova elite e classe média cresciam entre os arranha-céus em construção, mas a maioria dos migrantes rurais terminava vivendo em barracos construídos nos morros em torno das grandes cidades. Ele tornou-se cadete nas Forças Armadas na expectativa de saltar da academia militar para os clubes profissionais de beisebol de Caracas. Mas, em lugar disso, se apaixonou pela vida militar.
Enquanto Chávez subia na hierarquia, estudava os escritos de Simón Bolívar, o libertador que expulsou os espanhóis da Venezuela no século 19, e os de filósofos como Nietzsche e Plekhanov.
Também começou a prestar atenção à extrema pobreza e desigualdade no país, em meio ao "boom" petroleiro. Inspirado pelos líderes militares revolucionários do Panamá e Peru e por intelectuais de esquerda venezuelanos, Chávez começou a desenvolver a ideia da revolta.
Ao longo de uma década, ele organizou os colegas militares em uma conspiração para substituir o que viam como falsa e venal democracia por uma democracia progressista e real. O golpe de fevereiro de 1992 foi um fiasco militar, permitindo que o impopular governo sobrevivesse, mas Chávez transformou seu discurso de rendição, televisado em rede nacional, em triunfo político.
Eloquente e elegante em sua boina vermelha, ele se apresentou a um país atônito – "ouçam ao comandante Chávez" – e declarou que seus objetivos não haviam sido realizados "por ahora". A piada que se ouvia então dizia que ele merecia 30 anos de prisão – um pelo golpe, 29 pelo insucesso.
Perdoado e libertado depois de dois anos, foi adotado como líder nominal por uma coalizão de movimentos de base e partidos de esquerda que conquistou a vitória na eleição de 1998, com apoio não apenas dos pobres mas de classe média saturada dos partidos políticos tradicionais. Com o petróleo cotado a apenas US$ 8 por barril, o Estado petroleiro estava quase falido.
Pouca gente fora da Venezuela, até então conhecida apenas por misses e pelo petróleo, sabia como avaliar a chegada ao poder de um líder temperamental que elogiava Fidel Castro mas dizia não ser nem de direita nem de esquerda, mas sim adepto de uma "terceira via" à moda do britânico Tony Blair.
Em poucos anos, Chávez se tornou uma das figuras mais reconhecíveis, e polarizadoras, do planeta.
EUA classificam de “absurda” insinuação de ter causado doença
Os Estados Unidos qualificaram ontem de "absurdas" as insinuações do governo da Venezuela segundo as quais o governo americano esteve envolvido na doença que matou Hugo Chávez.
"A afirmação de que os Estados Unidos estiveram envolvidos de alguma maneira na causa da doença do presidente Chávez é absurda, e a rejeitamos completamente", disse em comunicado o porta-voz do Departamento de Estado, Patrick Ventrell, minutos antes da confirmação da morte do líder venezuelano. Durante discurso em reunião com a cúpula do governo, o vice-presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse que o país e Chávez eram vítimas de uma conspiração montada pelos Estados Unidos e a oposição venezuelana para derrubar o presidente.
Naquele momento, Chávez ainda estava vivo.
"Chegará o momento em que uma comissão e a tecnologia revelarão que nossos inimigos históricos tentaram atacar a nossa pátria e que nosso comandante foi submetido a um plano desestabilizador", disse.
Em virtude da suspeita, a Venezuela expulsou dois enviados americanos ao país, acusados de conspiração, dentre eles o adido militar americano, David del Monaco. Maduro acusou Del Monaco de entrar em contato com militares venezuelanos para "investigar a situação das Forças Armadas do país" e "propor um projeto desestabilizador".
A outra expulsão foi anunciada minutos depois pelo ministro de Relações Exteriores, Elías Jaua, sem mencionar o nome do funcionário. O Pentágono informou que está a par da situação e que seu adido militar já voltou aos EUA.
Ele disse ainda que o governo venezuelano não descarta a hipótese de que a doença de Chávez tenha sido influenciada pelos "inimigos históricos da pátria", em referência aos opositores e aos Estados Unidos, e acusou laboratórios médicos de colaboração no incidente.