“Humilhados um dia serão exaltados”, diz Argôlo, com terço na mão, à CPI

CURITIBA – Investigado e preso na Operação Lava Jato, o ex-deputado federal Luiz Argôlo (SD-BA) disse em depoimento à CPI da Petrobras, ontem, que é inocente, reclamou de ter sido "alvejado" como parlamentar e afirmou que "os humilhados um dia serão exaltados".
"Os humilhados um dia serão exaltados. Isso é bíblico", declarou, com um terço na mão. "Todo ser humano erra. Não só eu, como vossa excelência, como qualquer ser humano. Jesus Cristo, que é filho de Deus, foi crucificado."
A CPI está em Curitiba, sede das investigações sobre o esquema de desvio de dinheiro da Petrobras, para ouvir quem está detido na cidade.
Argôlo, que tem 34 anos e era considerado uma promessa na política baiana, é acusado de envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, principal delator da Lava Jato. O Ministério Público Federal diz que helicóptero, máquinas, cadeiras de rodas e até boletos de IPTU do ex-deputado foram pagos por Youssef e que ele usou a mãe e o pai como laranjas para receber dinheiro de propina da Petrobras.
Ele era do PP, partido para o qual Youssef operava, mas se desfiliou em 2013 e migrou para o Solidariedade.
A princípio, o ex-parlamentar, que deu um abraço no presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), e no deputado Antônio Imbassahy (PSDB-BA), disse que se manteria em silêncio. Ele argumentou que nada do que falou até agora contribuiu para afrouxar sua prisão -Argôlo está detido preventivamente na carceragem da Polícia Federal há pouco mais de um mês.
Ao longo do depoimento, que durou cerca de uma hora, no entanto, o ex-deputado foi se abrindo. Reclamou de ter sido criticado duramente por um ano e meio, desde que surgiram as primeiras denúncias, e afirmou que foi julgado "de forma rápida" pelo Conselho de Ética da Câmara.
"A única coisa que faltou foi dizer que a falta de água foi culpa do Luiz Argôlo. Mas o resto… Passei um ano e meio apanhando. Mas não recebi nenhuma denúncia formal do Ministério Público", declarou.
O baiano disse que conheceu Youssef como empresário e proprietário de hotéis na Bahia, e não como doleiro. Segundo ele, isso ocorreu apenas depois de ter sido eleito deputado federal, em 2010.
"Me foi apresentado o empresário Alberto Youssef. Se agora ele é um criminoso, se é doleiro, se fez delação, não coube a mim entrar no Google e fazer uma consulta pelo seu CPF. Se ele foi condenado pela justiça, ou absolvido, não cabe a mim esse julgamento", afirmou.
Argôlo disse que é inocente, agradeceu a "corrente de oração" de amigos e familiares e, ao longo do depoimento, se recusou a responder algumas perguntas, invocando o direito de permanecer em silêncio.