IMG recebe doação de relógio comemorativo aos 100 anos de Independência do Brasil

O encarregado de produção Luiz Rebola Sobrinho, 67 anos, doou ao Instituto Maurício Gehlen (IMG) uma peça rara, que será leiloada e o recurso destinado à instituição.
Trata-se de um relógio de bolso, todo em prata, comemorativo ao centenário da Independência do Brasil.
É uma peça que chama a atenção pelos seus detalhes. À frente e acima, na moldura, está escrito, em alto relevo: “Sete de Setembro”, tudo em maiúsculo.
E abaixo: “1822-1922”. Atrás, também em alto relevo, está reproduzido a pintura de Pedro Américo conhecida como Independência ou Morte, ou Grito do Ipiranga, que representa a proclamação da independência.
Na parte interna (os relógios de bolso abriam atrás onde se costumava colocar fotos de pessoas) tem o busto de José Bonifácio com a seguinte inscrição (também em maiúsculo): “Glória aos fundadores da Independência”, também em alto relevo.
E acima, onde passa a corrente, a palavra “Fico”, em alusão ao Dia do Fico, que deu-se em 9 de janeiro de 1822 quando D. Pedro de Alcântara foi contra as ordens de Portugal que exigia sua volta a Lisboa, ficando no Brasil.
Rebola, funcionário da Podium Alimentos, conta que o relógio pertencia a seu avô, que morava na cidade de Promissão (SP), onde era “inspetor de quarteirão” ou delegado calça-curta como se dizia na época (uma pessoa que era nomeada para exercer as funções de polícia numa comunidade pela sua retidão de caráter, sem ter qualquer preparo específico para o cargo).
Certo dia, durante sua ronda (como fazia diariamente) foi até a estação de trem. Resolveu ir ao banheiro, na verdade “na privada”, também chamada de “casinha”, e encontrou o relógio no batente da porta. Ele pegou o relógio, colocou em seu bolso e foi até a farmácia em frente a estação e avisou que se alguém procurasse por um relógio que estava com ele. Óbvio que não deu as características do relógio. Não apareceu ninguém e o relógio acabou ficando com ele.
Já no Paraná, anos mais tarde, o avô de Rebola manifestou o desejo de que quando viesse a falecer que o relógio ficasse com o neto que estivesse mais próximo dele. O avô faleceu e o filho que ouviu o pedido do pai (no caso o pai de Luiz Rebola) não fez o combinado. Acabou entregando o relógio a outro filho, embora o avô tivesse falecido na casa de Luiz.
O relógio foi para uma gaveta. Anos mais tarde, a peça foi devolvida ao pai, que procurou Luiz e disse que havia feito “uma besteira”, já que o relógio deveria ser dele, mas ele havia entregue a outro filho. Mas agora estava corrigindo e o deu a Luiz.
A HISTÓRIA – Segundo o que se sabe desta peça, foi um inglês, rico, que mandou fazer cem unidades deste relógio comemorativo ao centenário da independência do Brasil.
Os relógios foram produzidos em Bruxelas (Bélgica) e distribuídos “aos figurões” da República (no centenário da independência, a monarquia já havia caído). E um destes figurões passou por Promissão (SP) e esqueceu seu relógio.
Também se sabe que já existem cópias e falsificações destes exemplares, mas não tem o mesmo valor que as unidades originais.
Sem, saber o que fazer com a relíquia e com medo de perder ou ser roubado, Rebola resolveu doar a peça ao IMG, fundado e presidido por Maurício Gehlen, diretor da Podium. “Acho que o Maurício vai saber aproveitar melhor este relógio”.
Gehlen agradeceu a doação e disse que vai restaurar a peça e colocar à venda no leilão que pretende fazer ano que vem, com outras peças (principalmente desportiva) de grande valor simbólico. “O que mais me emociona não é pelo valor que vamos arrecadar, mas o gesto de solidariedade, de querer ajudar o Instituto”, disse o empresário.