Indústria de mandioca aposta em inovação para vencer dificuldades do mercado

Principal polo feculeiro de mandioca do Brasil, o Paraná foi responsável por 68,1% do total produzido em 2016, com cerca de 420 mil toneladas. Isso representa quase três vezes mais do que os números da indústria sul-mato-grossense, que registrou 145 mil toneladas no mesmo período.
O destaque paranaense se deve, de maneira determinante, à extensa área destinada para a plantação da raiz. No ano passado, as lavouras no estado totalizaram aproximadamente 2 milhões de hectares, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De lá para cá, o mercado tem enfrentado constante oscilação. Há períodos com grande oferta da matéria-prima e outros de escassez do produto. A inconstância teve reflexos diretos nas projeções do IBGE. Para se ter uma ideia, a área a ser colhida no Paraná em 2017 deverá chegar perto dos 109 mil hectares, 26,3% a menos do que em 2016.
Na avaliação de Fábio Felipe Isaías, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), “o mercado tem sido favorável aos produtores”. Nos atuais patamares de preços, “a fécula de mandioca perdeu competitividade frente a outros amidos, principalmente o de milho”.
O que se observou, então, foi uma redução expressiva nos rendimentos da indústria. Em 2016, a produção nacional foi de 616 mil toneladas de fécula. De acordo com o pesquisador do Cepea, “o resultado será menor em 2017. Não deverá superar as 450 mil toneladas”.
INDÚSTRIA SUPERANDO A CRISE – Se o mercado da mandioca enfrenta dificuldades, é preciso transpor os obstáculos e buscar meios de superar os impactos negativos que a produção rural impõe ao setor industrial.
Na indústria em que Ivo Pierin Júnior é diretor, a aposta está na qualidade dos derivados da raiz. Para garantir produção de excelência, o controle é feito desde a chegada da matéria-prima até o transporte e a entrega de tudo o que é processado.
O acompanhamento de cada etapa da extração do amido de mandioca se dá por um sistema totalmente digital. Análises laboratoriais também são constantes e contribuem para tornar o resultado final o melhor possível para chegar aos clientes.
O processo automatizado permite a fabricação de diferentes itens. São 60 formulações, a maior parte destinada aos pães de queijo. Mas também há compostos para salgadinhos industrializados, queijos, iogurtes, tecidos, papéis e até mesmo xampu e medicamentos. “O amido de mandioca é bastante versátil”, destacou Pierin Júnior.
O complexo industrial localiza-se em Tamboara, município que faz divisa com Paranavaí, no Noroeste do Paraná. De lá, a produção é transportada para estados de todo o Brasil, com ênfase na região Centro-Sul. São processadas 400 toneladas de amido por dia, tendo capacidade para chegar a 10 mil toneladas em um mês.
Desse total, 2% são para a exportação. A avaliação do diretor industrial é que o potencial do mercado internacional é vasto, por isso, precisa ser mais bem explorado. A comercialização de pães de queijo em países da Europa é uma das opções apontadas por Pierin Júnior. Na opinião dele, é possível conquistar o paladar dos europeus, desde que as oportunidades sejam devidamente aproveitadas.

TAPIOCA DO BRASIL
O diretor industrial Ivo Pierin Júnior destacou outro derivado da mandioca como tendo mercado promissor. A tapioca, disse Pierin Júnior, tem aberto importantes espaços nos últimos cinco anos. O produto que antes era comercializado predominantemente nos estados nordestinos está conquistando brasileiros de todas as regiões.
Levantamento do Cepea revelou que o segmento que mais consumiu fécula de mandioca em 2016 foi o de massas e panificação, representando 22,7% do total processado no Brasil. A tapioca foi responsável por uma fatia de 9,44%. “A tapioca teve o crescimento mais expressivo, consumindo por volta de 60 mil toneladas anuais”, afirmou o pesquisador Fábio Isaías Felipe.
Segundo ele, trata-se de uma importante mudança na dinâmica do mercado. O setor de papel e papelão, que chegou a figurar como principal destino de vendas de fécula de mandioca, substituiu a matéria-prima pelo amido de milho.
Sendo assim, a aceitação às novas possibilidades de comercialização é uma das garantias de crescimento para a indústria em que Toshie Yamakawa é gerente-financeiro. Há seis anos, a fabricação de tapioca é o carro-chefe do grupo.
Começou com pequenas quantidades em estabelecimentos comerciais de Paranavaí, onde está a sede administrativa da indústria. Depois, o produto começou a ganhar espaço em outros locais. Atualmente, a tapioca é vendida em diferentes cidades do Paraná e em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Apesar de a maior parte da produção ser distribuída em território nacional, a tapioca tem chegado a outros países. “Os pedidos estão aumentando”, garantiu a gerente-financeiro. Segundo ela, a fabricação do item alimentício gira em torno de 500 toneladas por mês. A meta é ampliar para mil toneladas.
Toshie explicou que a concorrência cresce na mesma intensidade em que o consumo aumenta. Por isso, a qualidade é essencial. “O processo de fabricação é totalmente industrial, sem qualquer contato manual. Assim, não há contaminação. A tapioca sai em perfeitas condições e agrada os clientes mais exigentes”.
ESTÍMULO AO CONSUMO – E já que o bom relacionamento com os clientes é importante para conquistar espaço no mercado, Toshie Yamakawa utiliza uma estratégia que tem dado resultados positivos. Promove cursos sobre o preparo de tapioca; publica vídeos na internet, ensinando receitas; e realiza eventos de degustação do produto. “O retorno está sendo muito bom”, assegurou.
O estímulo ao consumo a partir da divulgação ganha forças graças a um aspecto que chama a atenção: a tapioca não contém glúten, componente considerado inimigo das dietas saudáveis e que pode provocar alergia. “A tapioca também é recomendada para diabéticos, por causa do baixo índice glicêmico”, ressaltou a gerente-financeiro.

DE OLHO NO MERCADO
Enquanto lida com as dificuldades, a indústria tenta encontrar caminhos que levem para o sucesso pleno. Além dos investimentos em tecnologia e da abertura de novos mercados, o setor precisa passar por uma grande reestruturação.
Na opinião de Ivo Pierin Júnior, o primeiro passo seria promover a modernização do campo, com pesquisas que levem ao melhoramento genético das variedades de mandioca, tornando-as resistentes às condições adversas do tempo e às pragas. Somente assim a raiz alcançará patamares competitivos em relação a outras culturas, por exemplo, o milho.
Partindo desse ponto, haveria maior produtividade e preços estáveis na comparação com o que ocorre atualmente. Para servir como base de análise, basta considerar os valores praticados entre 4 e 8 de setembro deste ano. O preço médio da fécula ficou em R$ 2.572 por tonelada, o que representa 24% a mais do que no mesmo período de 2016.
A elevação foi resultado do alto valor praticado pelos mandiocultores. Na semana passada, o preço médio da tonelada da raiz posta na fecularia era R$ 491, superando em 35% a média da época correspondente no ano anterior.