“Jornal do Brasil” volta a ter edição impressa

SÃO PAULO (Nelson de Sá, Folha de S. Paulo) – Depois de oito anos sem edição impressa, no domingo (25) o “Jornal do Brasil” do Rio de Janeiro voltou a circular com um plano de negócios inesperado. “Vamos focar as bancas”, diz o empresário à frente do relançamento, Omar Resende Peres, 60. O preço de capa será de R$ 5, em formato standard.
 “O nosso plano de negócios foi todo realizado para a venda de bancas”, diz, citando uma pesquisa que levantou o potencial. Assinaturas, inclusive para a versão digital, podem ser implementadas. E o jornal já tem um departamento de publicidade, com seis profissionais, mas o eventual retorno “será lucro”.
“O mercado no Rio está muito machucado em decorrência da crise que estamos vivendo”, diz Peres. “Agora, nós temos que viver de banca. ”Ele reconhece que parece estar “na contramão da história”, mas lembra que não é “um neófito”, sendo proprietário de uma afiliada da Globo e de um jornal em Juiz de Fora-MG.
“E eu estou relançando o ‘Jornal do Brasil’, que é uma marca icônica no Rio e ainda tem um mercado relevante”, diz. “O ‘Jornal do Brasil’ ainda está vivo nas pessoas do Rio. Eu acredito nisso, nesse patrimônio.”
Fundado em 1891, o “JB” marcou a modernização do jornalismo brasileiro a partir de 1959, quando Jânio de Freitas, hoje colunista da Folha, comandou sua reforma gráfica. Peres assumiu a marca em 2017.
No entender do empresário, “o que vai viabilizar” o projeto é seu baixo custo operacional. Ele se nega a dar números sobre o investimento feito, mas enfatiza que a estrutura “é muito pequena”, inclusive Redação.
Segundo o diretor de Redação, Gilberto Menezes Côrtes, serão cerca de 30 jornalistas. Contando colunistas e outros, o “time total” chega a 50, “jornalistas muito experientes, que abraçaram a causa”, diz Peres.
Eles vão responder por reportagens especiais, artigos e colunas, que se somarão à edição, “para dar a cara do ‘Jornal do Brasil’”, do material fornecido por agências como Estado e France Presse e o jornal esportivo “Lance”.
Mais do que na produção de conteúdo, o jornal vai economizar com impressão e distribuição, que ficarão a cargo da Infoglobo no Rio e do “Jornal de Brasília” para a tiragem na capital federal. Em São Paulo, só estará disponível nos aeroportos.
O site do “Jornal do Brasil”, mantido nestes oito anos por outra Redação, também estreia novo formato. Peres decidiu deixar o portal Terra, onde está abrigado, mas ainda não definiu novo destino.
O que está mais adiantado é o lançamento da JB-TV, que “é um outro produto, não tem nada a ver com o jornal impresso, nada a ver”, diz. “É outro time, vai ser feito por jovens que são hoje linkados à internet.”
O empresário, que tem hoje investimentos em fazendas e restaurantes, no Rio, vai se dedicar ao jornal diariamente, “como membro do estafe”. Mas só escreverá eventualmente.
Seu texto publicado na edição de domingo é uma mensagem aos leitores, afirmando acreditar na marca do jornal, porque “o que mora na alma não morre”, e no Rio de Janeiro. Em suma: “Nós vamos sair desse imbróglio em que a gente está”.
Tanto Peres como o diretor Côrtes, veterano do primeiro “JB” e mais recentemente em veículos como GloboNews, afirmam que o jornal será pluralista, sem favorecer políticos ou grupos.
“Eu sou brizolista”, diz o empresário. “Continuo sendo brizolista. Tenho proximidade com Ciro [Gomes, presidenciável do PDT]. Mas aqui na Redação eu tenho pessoas que vão torcer por alguém do PT, por alguém do PSDB.”
E conclui: “Não pedi atestado ideológico para ninguém. E a minha convicção pessoal, de que Ciro é o melhor candidato hoje, não vai ter a menor influência. O jornal vai fazer jornalismo”.