José Dirceu disse que ministro Luiz Fux prometeu absolvê-lo no caso do Mensalão

BRASÍLIA – Os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Cármen Lúcia e Dias Toffoli disseram ontem que não iram se pronunciar sobre as declarações do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu a respeito do ministro Luiz Fux. Condenado a mais de dez anos no julgamento do mensalão, Dirceu contou em entrevista à Folha de S.Paulo e ao UOL que Fux o "assediou moralmente" quando fazia campanha para ingressar no STF e prometeu absolvê-lo no caso.
"Sabe que horas cheguei aqui? Sete horas da manhã. Não li o jornal. Realmente não li. Nem sabia", disse a ministra Cármen Lúcia, que também é presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
A ministra participou na manhã de ontem de encontro da Corte eleitoral, que contou com a participação de representantes dos partidos políticos, do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-AL).
Lúcia estava ainda acompanhada do ministro Dias Tóffoli, que também não quis comentar as declarações de Dirceu. "Também não li", disse, sorrindo em seguida.
Ao ser questionado sobre a mesma pergunta, o presidente da Câmara, antes de começar a falar, foi interrompido por Cármen Lúcia: "Então, nesse caso, vou pedir licença porque sou membro do Supremo Tribunal Federal".
Em meio ao clima de constrangimento, Alves disse que acompanharia a ministra. "Posso acompanhar também". As declarações do deputado desencadearam risadas dos presentes.
"Precisamos ler primeiro para depois dar declarações", emendou Renan.
Na entrevista, Dirceu conta que a reunião entre ambos ocorreu num escritório de advocacia de conhecidos comuns. Ao relatar esse encontro, Dirceu faz uma acusação grave. O ex-ministro afirma não ter perguntado "nada" [mas Fux] "tomou a iniciativa de dizer que ia me absolver".
Num outro trecho da entrevista, segundo Dirceu, "ele [Fux], de livre e espontânea vontade, se comprometeu com terceiros, por ter conhecimento do processo, por ter convicção".
O ex-ministro afirma ainda que Fux "já deveria ter se declarado impedido de participar desse julgamento [do mensalão]". No início de 2011, Fux foi nomeado pela presidente Dilma Rousseff para o STF. Durante o julgamento do mensalão, votou pela condenação de Dirceu -que acabou sentenciado a de dez anos e dez meses de reclusão mais multa.
Em entrevista à Folha de S.Paulo em dezembro do ano passado, Fux admitiu ter se encontrado com Dirceu, mas negou ter dado qualquer garantia de absolvição.
"Se isso o que você está dizendo [que é inocente] tem procedência, você vai um dia se erguer", teria sido a frase que o então candidato ao STF ofereceu ao petista.

Advogado de Valério diz que ficou
"estarrecido" com declaração de Dirceu

O criminalista Marcelo Leonardo, advogado do empresário Marcos Valério de Souza no processo do mensalão, disse estar "estarrecido" com afirmação do ex-ministro José Dirceu de que o ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux prometeu absolvê-lo no julgamento do caso.
"Estou estarrecido com essa entrevista do José Dirceu e também com aquela que foi dada pelo ministro Fux à Folha de S.Paulo, na qual relatou o contato com o ex-ministro", disse Leonardo.

Marco Aurélio diz que afirmações
de Dirceu desgastam o Supremo

O ministro Marco Aurélio Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), disse ontem que as afirmações do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) sobre a promessa de absolvição que teria recebido do ministro Luiz Fux desgastam a Corte, mas não têm a capacidade de prejudicar o julgamento.
"É tudo muito lamentável, como eu disse ontem [sobre o episódio da tensa reunião entre o presidente Joaquim Barbosa e os presidentes de entidades de juízes]. Desgasta o Supremo", disse o Marco Aurélio.
"Mas não fragiliza o julgamento [do mensalão], porque não se trata de um argumento jurídico. Pelo contrário. Ele [o ministro Fux] foi um dos mais rigorosos", completou.