Jovem ditador fará mais execuções, diz analista

PEQUIM, CHINA – A execução sumária de Jang Song-thaek, tio do ditador norte-coreano, Kim Jong-un, abre um período de instabilidade no país, alimentada pela personalidade violenta de seu jovem líder.
O prognóstico é do analista russo Andrei Lankov, um dos mais respeitados especialistas em Coreia do Norte.
Ele prevê novas prisões e execuções, em um processo destinado a trocar toda a cúpula para que Kim Jong-un, 30, consolide seu poder e rejuvenesça um governo formado por septuagenários.
"Kim Jong-un mostrou ser violento e inclinado a reações emocionais", disse Lankov por telefone de Seul, onde é professor da Universidade Kookmin. "Não é a personalidade mais desejável para liderar um país com armas nucleares".
Jang Song-thaek, 67, era considerado o número dois na hierarquia de poder da Coreia do Norte. Ele era casado com Kim Kyong-hui, irmã de Kim Jong-il, que morreu em 2011 e foi sucedido pelo filho, o atual ditador.
A execução de Jang foi anunciada na sexta-feira pela agência estatal norte-coreana, KCNA, menos de uma semana após ele ser destituído dos seus cargos no Partido Comunista norte-coreano.
Foi a primeira vez que um membro da família Kim, que controla o país há três gerações, é executado. "A mensagem voltada para o público doméstico é a seguinte: não há tolerância para desacordo", explica Lankov.
O regime fez questão de dar exposição máxima à execução de Jang. É uma diferença marcante em relação ao passado, quando expurgos e execuções eram feitas de forma silenciosa.
Segundo a agência KCNA, Jang foi condenado à morte por um tribunal militar e executado logo em seguida. Entre as muitas acusações, a principal é de traição, por tramar um golpe de Estado.
“ESCÓRIA HUMANA” – A TV estatal jogou lama no condenado, descrevendo Jang como "escória humana desprezível, pior do que um cão, autor de ações três vezes amaldiçoadas".
Jang era associado à criação de zonas econômicas especiais (ZEE), de abertura ao investimento estrangeiro, que seriam o embrião de reformas econômicas. Também era o principal interlocutor com a China, único aliado da Coreia do Norte.
Lankov acha que as ZEE poderão ser afetadas. Sobretudo porque muitas das acusações contra Jang são relacionadas à venda irregular de terras e recursos naturais a um país estrangeiro – uma óbvia referência à China.
"A China é o único país com dinheiro e vontade política para investir. Mas, depois de um incidente como este, ficará bem menos inclinada a investir na Coreia do Norte", afirma o analista.
Apesar disso, Lankov acredita que Kim tentará dar início a reformas econômicas, que serão acompanhadas de uma linha dura política.
"Reformas econômicas são um jogo perigoso. Para a situação não sair do controle, é provável que a repressão aumente", explica.