Laranja sadia

Cultura de grande importância econômica para o Brasil (o país é o principal exportador mundial do suco da fruta), a laranja conta com um grande arsenal técnico para garantir sua produtividade.
Existem testes de DNA em folhas para conferir a presença de bactérias, fábricas de insetos para combater as pragas dos pomares e uma série de tecnologias à disposição dos citricultores. Porém, nenhuma delas substitui o bom manejo e o olhar atento do produtor.
Essa pode ser a diferença entre o sucesso ou o fracasso no longo prazo. O descaso com a sanidade dos pomares levou à erradicação de uma grande área de citros no Estado de São Paulo, principal produtor nacional, e está levando a Flórida, maior região produtora dos Estados Unidos, a uma queda sem precedentes na produção.
Boa parte dos investimentos na citricultura brasileira é direcionada ao controle de pragas e doenças, sendo o Huanglonbing (HBL) ou greening a enfermidade mais danosa aos pomares devido à sua capacidade de destruição e dificuldade de controle.
Mas ele não é o único, doenças como o cancro cítrico e a pinta preta também já foram o pesadelo dos citricultores em um passado recente e é preciso estar atento para que não voltem a causar estragos.
Esse cuidado não é descabido. A laranja é a principal cultura da fruticultura paranaense. A safra que está sendo colhida é estimada em 24,5 milhões de caixas de 40,8 quilos, de acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento (Seab), volume 32% superior ao da safra anterior, que sofreu por conta de problemas climáticos.
De acordo com o coordenador de sanidade da citricultura da Agência de Defesa Sanitária do Paraná (Adapar), José Croce Filho, as principais doenças que incidem sobre os pomares são as chamadas “quaternárias”, que são aquelas que implicam em restrição da venda dos frutos no mercado internacional. Se enquadram nesta categoria o cancro cítrico, a pinta preta dos citros e o greening. “Todas elas sob controle no Estado”, afirma.
O Paraná se destaca no cenário nacional com um parque citrícola invejável do ponto de vista sanitário. O Estado foi impedido de plantar laranja durante um longo período por conta do cancro cítrico. Foi apenas na década de 1990 que retomamos nossa citricultura comercial.
A diferença é que quando a produção recomeçou, tinha à disposição um cabedal técnico sanitário desenvolvido pela pesquisa aplicada do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). “Foram oferecidas mudas produzidas em viveiros paranaenses e com material propagativo sadio e adaptado para as condições de clima e solo do Estado”, diz Croce.
Além de pomares mais jovens e sadios, o citricultor paranaense também precisou reaprender o manejo da cultura. Dessa forma reiniciou este processo sem vícios e com um olhar mais atento às condições sanitárias. Também pesa em favor da citricultura no Paraná a forte presença dos sistemas cooperativo e associativista, que ajudam a organizar a produção e promovem o manejo correto das plantas.

Olhar do produtor

Para auxiliar o citricultor a manejar corretamente sua produção, o SENAR-PR oferece o curso Trabalhador na Fruticultura Básica – Clima Tropical – Manejo Ecológico de Pragas em Citros. Neste ano já foram realizadas três turmas nas regiões de Campo Mourão, Londrina e Ponta
Grossa.
Segundo Valdomiro Tormen, doutor em produção vegetal e instrutor do SENAR-PR, uma das principais medidas é o manejo ecológico de pragas. “A cada 15 dias o produtor faz uma vistoria nas plantas caminhando pelo pomar e recolhe uma amostragem de 1% de cada talhão. Ele avalia se tem pragas, analisa frutos, ramos, anota os sintomas numa planilha de controle e encaminha esses dados para o engenheiro agrônomo responsável, que irá definir qual estratégia adotar”, explica Tormen.
Segundo Tormem, em Paranavaí (região Noroeste) houve casos em que os produtores ficaram 14 meses sem aplicar agroquímicos. “Isso representa uma economia significativa para o citricultor”, observa.
Essa também é a opinião de Croce, da Adapar. “As inspeções regulares nos pomares, ajudam a identificar problemas fitossanitários ainda no início, o que favorece o uso racional de agrotóxicos”, diz. (Revista Faep)