Leitura é fundamental para formar cidadãos
Dentro da programação, na quarta-feira (18) o SESC reuniu numa mesa redonda os premiados escritores paranaenses Oscar Nakasato e José Castello, com a participação do jornalista e professor, mestre em Letras pela UEM, Saul Bogoni, como mediador, para um bate-papo sobre a formação do leitor: “Jabutis na poltrona – Cadê o leitor?”, destacando que a leitura é fundamental para formar cidadãos.
OS AUTORES
José Castello, carioca, 62 anos, reside em Curitiba. Biógrafo, crítico literário, cronista, romancista, jornalista e mestre em Comunicação pela UFRJ. Iniciou a carreira como jornalista em 1970, colaborador regular dos jornais O Globo, Valor Econômico e Rascunho. Autor de perfis e biografias como “Vinícius de Moraes: o poeta da paixão”. Em 2007 publicou “A literatura na poltrona”, resultado de suas experiências com oficinas literárias e de jornalismo cultural. Outro livro, “Ribamar”, publicado em 2010, foi o vencedor do Prêmio Jabuti de romance, em 2011.
Oscar Nakasato, natural de Maringá, 50 anos, graduado em Letras, mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada, doutor em Literatura Brasileira, atualmente reside em Apucarana, professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Foi premiado no III Festival Universitário de Literatura Xerox – Livro Aberto, em 1999, com o conto “Olhos de Peri e Alô”; ganhador do Concurso Nacional de Contos Newton Sampaio – Categoria Especial Paraná, em 2003, com o conto “Menino na árvore”; do Prêmio Benvirá de Literatura, em 2011; do Prêmio Bunkyô de Literatura em Língua Portuguesa em 2011 e do Prêmio Jabuti, na categoria romance, em 2012, com “Nihonjin” (Japonês). Autor do livro “Imagens da integração e da dualidade: personagens nipo-brasileiros na ficção”.
CASTELLO
Como crítico literário, Castello relatou que tem como política não julgar livros, mas relatar para o leitor como foi fazer aquela viagem pela história, escrever as suas impressões dos pensamentos que a leitura lhe despertou, das associações que o motivaram a fazer e dos livros que o levaram a reler aquilo que foi mais interessante. “O que não me interessa, pulo, não marco nada”, disse.
Castello disse não acreditar em inspiração para escrever, porque parece que é uma coisa que vem de fora, que se inspira. “Acredito mais em expiração, em botar prá fora o que tem dentro. Mas isso leva tempo, exige silêncio, meditação”, acentuou Castello. Ele citou João Gilberto Noll como exemplo de um autor que inveja e o livro “Nord”, onde é narrada a história sobre um escritor que fica vagando pelas ruas de Londres. “Esse livro descreve de um modo muito bonito essa condição atual do escritor como um andarilho, um ser meio perdido no mundo, carregado por forças que desconhece, sem saber o que esperam dele, sem saber se o que está dizendo é interessante ou não, sem saber se ele está ajudando ou atrapalhando, se está se repetindo. Muitos escritores estão cansados dessa vida de mercadores literários”, comentou o crítico.
Castello disse que “é uma coisa muito boa participar de eventos e isso tem ajudado muitos escritores financeiramente, mas é uma vida exaustiva. Eu me estreço nas viagens que faço. Todos os lugares são muito cheios. Dá uma angústia quando você começa a achar que está falando sempre a mesma coisa, até porque não tem tanta coisa original assim para dizer. Ninguém tem”, concluiu.
NAKASATO
No bate-papo sobre literatura e busca pelo leitor, com José Castello e mediação de Saul Bogoni, o professor e escritor maringaense Oscar Nakasato falou sobre sua principal obra, “Nihonjin”, que superou quase dois mil originais no Prêmio Benvirá de Literatura. No ano passado a obra, que faz um painel da imigração japonesa no Brasil, ganhou o Prêmio Jabuti de melhor romance, deixando para trás títulos de autores consagrados como Ana Maria Machado e Wilson Bueno.
Leitor assíduo, ficou marcado pela leitura aos 10 anos de “A Ilha Perdida”, de Maria José Dupré e muitos Gibis do Walt Disney. Ele estava na 5ª série quando se propôs a escrever um romance ao qual deu o título de “Alma de Serpente”. Jogou fora. Anos depois releu e achou tão ruim que ficou envergonhado de guardar.
Nakasato disse que na adolescência foi meio rebelde. Não gostava de ser descendente de japonês. Achava os brasileiros mais expansivos, alegres, divertidos e, por isso, procurava a amizade de não-nipônicos. Quando teve que escolher a tese,pensou em resgatar um pouco essa identidade, como se estivesse devendo alguma coisa para os pais e para sua cultura. Assim, procurou personagens japoneses na ficção brasileira. “O que tenho percebido com “Nihonjin” é que os nipobrasileiros têm uma percepção diferente do meu romance, daquela dos brasileiros. É a mesma percepção que tive quando li o conto “Sonhos Bloqueados”, com personagens nipônicos, de Laura Hasegawa. Percebi que só poderia ter sido escrito por alguém muito íntimo da cultura japonesa, o sentimento que perpassa todo o romance é um sentimento de um indivíduo dividido entre duas culturas”, acentuou Nakasato.