Liberação de droga contra o câncer será debatida por especialistas

BRASÍLIA – O uso da fosfoetanolamina voltará a ser debatido pela Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT) do Senado. Desta vez, em conjunto com a Comissão de Assuntos Sociais (CAS). A reunião está marcada para 9h de hoje.
Na última quinta-feira (22), a CCT fez audiência pública sobre o desenvolvimento de tecnologias na área de saúde, e o tema acabou dominando o encontro.
A substância ganhou o noticiário nacional depois de ter sido apontada como revolucionária no tratamento do câncer. Todavia, especialistas vêm alegando a necessidade de maiores estudos e testes clínicos.
A questão virou caso de Justiça depois que pacientes ganharam liminares para que a Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos – instituição responsável pelas pesquisas – distribuísse a fosfoetanolamina em cápsulas.
A própria USP, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e diversas autoridades médicas alegam que a droga não passou por testes em humanos, por isso nem mesmo pode ser considerada um remédio.
POLÊMICA – A polêmica sobre a liberação ou não do uso da fosfoetanolamina acabou chegando a debate da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) sobre o desenvolvimento de tecnologia na área de saúde.
Entre os expositores convidados pela CCT, prevaleceu o entendimento sobre o risco de se comercializar um medicamento sem experimentos prévios que comprovem sua eficácia e segurança.
“A princípio, acho irresponsável distribuir uma droga para o câncer sem passar por uma fase pré-clínica e clínica rigorosa. Pular etapas é perigoso. Eu seria mais cauteloso com isso”, opinou o biólogo Alysson Muotri, pesquisador do Instituto Salk para Estudos Biológicos, na Califórnia, com foco em autismo.
Parecer similar foi dado pelo médico e também pesquisador Marcelo Morales, diretor do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “Entendo a ansiedade das pessoas que têm câncer, desesperadas em usar um remédio que dê resultado. Mas, em relação à ciência, não se pode pular etapas”, considerou Morales, observando que as etapas de segurança começam com o teste da droga in vitro, seguido por experimentos com animais, até culminar com três fases de testagem em humanos.

Uso de animais
Outro assunto controvertido em pauta foi o uso de animais em testes realizados pela indústria farmacêutica.
De acordo com o representante no Brasil da Human Society International (HSI), entidade que atua pela eliminação de testes com animais em laboratório, Helder Constantino, um crescente número de artigos científicos tem demonstrado a limitação da testes de fármacos em animais, o que chegaria a impedir a extrapolação dos dados obtidos para humanos.
“A abordagem da HSI é se aproximar de cientistas que acreditam no potencial das novas tecnologias no seu campo de pesquisa e trabalhar com eles para promover esses métodos. Acreditamos que as novas tecnologias podem ser a chave para melhorar as terapias de algumas das mais graves doenças do mundo”, comentou Constantino, defendendo a substituição de testes em animais por técnicas in vitro e computacionais.
Visão distinta foi expressada por Marcelo Morales, para quem o desenvolvimento de um medicamento passa, obrigatoriamente, por testes com animais, protegidos em laboratório pela Lei 11.794/2008. De qualquer modo, ele observou que o CNPq já lançou a Rede Nacional de Métodos Alternativos (Renama), admitindo ainda ser possível alcançar, no futuro e paulatinamente, a redução no uso de animais em laboratórios de pesquisas. (da Agência Senado)