Limite para banda larga deve atingir consumo de vídeos
"O usuário terá de cortar na carne, usar menos as aplicações de que tanto gosta, vai doer de qualquer forma", diz Eduardo Martins Morgado, professor do departamento de computação da Unesp.
Hoje, isso é principalmente baixar o consumo de vídeos (uma hora de vídeos no YouTube consome 120 Mbytes, 12,3 mil vezes mais que abrir um e-mail sem anexos, segundo a Proteste).
Mas vídeos são hoje o centro da estratégia de algumas das principais empresas de internet do mundo -o Facebook, por exemplo, dá prioridade a posts com eles e vem expandindo seu sistema de transmissões ao vivo, o Live.
Será também necessário ser mais criterioso na escolha do plano. Hoje, até porque as operadoras não costumam colocar essa informação em destaque, os consumidores costumam analisar apenas a velocidade oferecida. Agora, deve-se olhar também o volume de dados do pacote.
A Proteste fez uma simulação de uma casa com três usuários "intensos", em que cada pessoa utilize a rede em média quatro horas e meia por dia.
A conclusão é que essa família precisaria de 388 Gbytes por mês – um pouco mais do que o oferecido no plano mais caro (R$ 200) da Vivo, de fibra óptica, com 300 Gbytes de dados – a empresa anunciou que planeja bloquear ou reduzir a conexão de novos clientes que ultrapassem o contratado.
"Hoje, só temos televisores, notebooks e smartphones conectados. Amanhã pode haver até geladeiras com internet. Isso pode ser um problema", diz Thiago Leite Porto, técnico da Proteste.
A entidade, assim como o Idec, entrou com ação judicial para tentar proibir as operadoras de adotar as franquias e cortar o acesso.
Na segunda-feira (18), a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), não vetou a prática, mas determinou que as companhias façam um plano de comunicação aos usuários -com informações sobre o sistema e ferramentas para medir o esgotamento dos pacotes.
A atuação da agência gerou reações. O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Claudio Lamachia, classificou a medida como "inaceitável": "Ao editar essa resolução, a Anatel nada mais fez do que informar às telefônicas o que elas devem fazer para explorar mais e mais o cidadão".
Nesta quarta-feira (20), o promotor Paulo Roberto Binicheski, do Ministério Público do Distrito Federal, que está investigando os bloqueios, vai se reunir com membros do Ministério Público Federal. O objetivo é abrir uma investigação sobre a atuação da agência, por suspeita de favorecimento às companhias.
"Queremos saber quais estudos técnicos levaram a essa decisão", afirma. Procurada, a Anatel não respondeu.
Perguntas e respostas
Todas as operadoras adotarão o bloqueio?
As estratégias variam. A Vivo havia anunciado que começaria a aplicar o bloqueio a partir de 2017, mas agora diz que não vai fazer isso "por tempo indeterminado". A Net já reduz a velocidade de usuários que estouram o pacote e a Oi nega que faça nenhuma das duas coisas
Por que as companhias estão adotando franquias?
A justificativa é que serviços como o Netflix e jogos on-line, que exigem uma quantidade grande de dados, fizeram com que as redes ficassem sobrecarregadas, o que exige a imposição de limites
Esse tipo de medida é legal?
As ações judiciais sobre o assunto ainda estão tramitando. Entidades de defesa do consumidor consideram que a medida fere o Código de Defesa do Consumidor – ao elevar o custo sem justificativa técnica – e o Marco Civil (segundo o qual a conexão só pode ser cortada se a conta não for paga). As operadoras discordam
O que posso fazer para consumir menos dados?
Programas como o Glasswire permitem que o usuário identifique quais de suas atividades exigem mais dados: eles podem identificar, por exemplo, se há alguma praga virtual (em geral, um nome estranho em meio a apps conhecidos) "sugando" a conexão. Desligar o modem e o roteador ao sair de casa também pode ajudar.