Livro italiano retrata Carlo Cagnani, que trouxe sua música de Borgonovo a Paranavaí

Três exemplares do livro sobre o centenário do professor de música italiano Carlo Cagnani, que atuou em Paranavaí por mais de 20 anos, até aposentar-se, nas décadas de 50, 60 e 70, no Colégio Estadual de Paranavaí e outros estabelecimentos, foram enviados ao Diário do Noroeste junto com uma missiva, pelo padre Hiansen Vieira Franco, pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, de Poços de Caldas. Um dos livros foi dedicado à Biblioteca Municipal Júlia Wanderley.
“Sou amigo de dom Wilmar Santin, bispo de Itaituba-PA (ex-vigário da Paróquia São Sebastião de Paranavaí) que me passou o endereço”..  
O livro “Carlo Cagnani há portato la sua musica da Borgonovo al Brasile, un recordo del nipote Paolo nel centenário dela nascita (24/10/1915-2015)” foi escrito pelo sobrinho dele, Paolo Cagnani, de Borgonovo V.T. (Itália) “de quem sou amigo há vários anos. Morei seis anos na Itália para estudos e, nesse período, duas vezes por ano, na Páscoa e Natal, ia auxiliar o pároco de Borgonovo, onde conheci Paolo Cagnani. Tencionando a escrever sobre o tio, que viveu em Paranavaí desde 1957, a seu pedido comecei auxiliá-lo no que eu podia. O esforço dele resultou na presente obra que, por solicitação do mesmo, tenho o prazer de lhe encaminhar”, diz o padre Hiansen Vieira Franco.
O livro conta a história da família italiana Cagnani desde o século XVII (1600) e reúne fotos, artigos do Diário do Noroeste, jornais da comunidade italiana, cartolinas e outros registros que Carlo enviava ao sobrinho na Itália, desde sua presença em Paranavaí.
Carlo Cagnani nasceu em 24/10/1915 em Borgonovo e faleceu em Paranavaí
em 12/09/1984, vitima de edema agudo pulmonar, insuficiência  cardio-respiratória, miocardiopatia, no limiar de seus  69 anos.
Em 20 de novembro de 1941 casou-se com Federica Dallavalle (Piacenza, nascida em 22/06/1922 e falecida em 09/10/2008).
O casal passou a viver com a mãe dela na centralíssima via Roma nº 52, que serviu depois da guerra por dezenas de anos para uma loja de eletrodomésticos, agora desativada.
Em 17 de março de 1942 veio à luz Giovanna Maria Eugênia, única filha do casal.
Com a alegria do fim da guerra mundial – na qual teve que servir o exército italiano em vários lugares – e depois de retomar os estudos em 1941, com a obtenção do diploma, passou pela tristeza da crise conjugal já em curso há vários meses, que levaria à separação judicial de Carlo e Federica, que ficaria para viver com a pequena Giovanna na casa dos avós maternos, enquanto Carlo retornaria ao Cantão de Borhese com a mãe Maria Aurelia e seu irmão Francesco. Deixando a pequena filha para os avós maternos criarem, Federica retoma os estudos de formação de professores, que concluiu em 1950/1951.
Carlo, por sua vez, licenciado em História da Música, Teoria, Solfejo e Harmonia, fez a sua estreia no Teatro Municipal de Piacenza antes de sair para uma excursão que o levaria para apresentações na Suíça, França, Hungria e a nova república da Iugoslávia, pela primeira vez em Belgrado e, em seguida, em Zagreb. Experiências que o levaram a manter-se longe de Borgonovo muitos meses.
Ele retornaria para a formatura da filha Giovanna em Colegiatta.
Em 1956 ele empreende a grande viagem de navio para o Brasil. Carlo tem quatro semanas de relaxamento e divertimento ao juntar-se todas as noites no navio à orquestra no salão de shows, em que tem a oportunidade de mostrar seus dotes. Inicialmente com destino ao Rio, prolonga a viagem a Santos, de onde seguiria para a meta final, Maringá, onde já estava há três anos (desde 1953)  seu amigo e conterrâneo Aniceto Matti.
Depois de quase um mês de navegação o navio aportaria em Santos, em 17 de maio de 1956.
Em, Maringá o amigo já tinha providenciado a reserva e a conclusão de toda a papelada necessária para a estadia. Permaneceu nesta cidade por oito meses, até 25 de fevereiro de 1957, quando decidiu seguir para Paranavaí, a convite de amigos, como o ex-prefeito José Vaz de Carvalho.
Apenas chegado, foi inscrito no programa de uma escola de música municipal instalada provisoriamente numa casa de madeira. Primeiro aluno foi um seminarista amigo do frei Ulrico Goevert, João Albino Werlang, de origem prussiana. Logo em seguida o diretor do Colégio Estadual, Lauro Ramos, o contrataria como docente com o objetivo de lecionar canto orfeônico. Albino Werlang seria depois diretor do Colégio Estadual de Paranavaí.
Em 2 de julho de 1966 a filha Giovanna obtém o diploma de contadora e decide se casar com Alberto “Nanni” Armani, funcionário do Instituto Case Popolari di Piacenza. Impossibilitado de retornar à Itália para a cerimônia, Carlo Cagnani decidiu homenagear a filha com um memorável concerto integralmente gravado pela TV Paranaense, afilhada da rede Globo. Foram duas horas de música e canto apresentando famosas canções brasileiras e italianas, algumas de sua autoria.
Nos anos 70 voltaria três vezes em férias a Borgonovo. A primeira em 1973 e nos anos seguintes, quando conheceu o neto, então com 4 anos de idade. A última visita foi em companhia de Aniceto Matti em 1979, já com a saúde debilitada devido a um tumor que nos últimos meses o havia atacado e mostraria imediatamente sua agressividade.
Visivelmente abatido caminhava já com a ajuda de uma bengala e demoraria para prostrá-lo pouco mais de um mês.
“Ao embarcar de volta no Aeroporto di Linate, em Milão, acenou para os familiares com um “até breve” embora todos estivéssemos conscientes de que seria a última viagem”, relata o autor do livro de memórias, o sobrinho Paolo Cagnani. “Minha memória pessoal contida nestas poucas semanas transcorre na Itália, quando ele veio para o almoço ou jantar em casa, ou quando em conjunto convivemos alguns momentos no bar e acompanhando em um passeio na avenida ou uma caminhada ao mosteiro dos frades em S. Bernardino ou o Instituto Andreoli”.
Em seu depoimento no livro, Giovanna conta que tinha 14 anos quando seu pai veio para o Brasil e ficaram dele poucas recordações, algumas das quais transcreve.  
Sem ter a oportunidade de dizer adeus pela última vez, a filha Giovanna veio a Paranavaí para cumprir as formalidades habituais com as autoridades municipais e levar o corpo para ser sepultado em Borgonovo, na Itália, cinco anos depois deocorrido. Quando faleceu, Carlo Cagnani foi velado no Colégio Estadual de Paranavaí, onde atuou durante 20 anos como professor de música, que integrava o currículo escolar.  
De Borgonovo Carlo Cagnani trouxe para o Brasil o talento e o amor pela música. Entre tantas, foi autor da música do Hino de Paranavaí, letra de Geraldo Marques, e do Hino do Femup, letra de Cleuza Cyrino Penha.
Pela Lei 0939/80, foi declarado Cidadão Honorário e Benemérito de Paranavaí em 12 de dezembro de 1980, “um grande atestado de estima e reconhecimento pelo italiano que chegou a Paranavaí quase por acaso, trazendo a música italiana para a terra do samba, dedicando uma boa parte de sua existência a divulgar e dar a conhecer a apreciação dos valores humanos”, observa o autor.