Lula, as leis e a Justiça
A atenção dos brasileiros tem sido canalizada para o embate sobre as denúncias contra o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, agora formalmente processado por envolvimento na corrupção da Petrobras. Desde a eclosão do mensalão, em 2005, o ex-metalúrgico feito líder político e presidente foi acusado de ser o chefe da roubalheira.
Por força da liderança que possuía, escapou do impeachment e ainda elegeu e reelegeu sua sucessora, agora “impichada”. Mas hoje, depois de descobertos os esquemas que, juntamente com o seu partido, utilizou para manter a liderança, não há mais como esconder a sua mão ativa ou omissa nas cenas dos crimes.
Sem qualquer dúvida, Lula empreendeu uma grande caminhada. Partindo do chão de fábrica, confrontou os militares – há quem diga que foi tolerado ou até inventado por eles -, esteve presente na luta pelas diretas ao lado de grandes figuras do movimento e, assim que foi possível, passou a operar em faixa própria, menosprezando seus colegas deputados (recorde-se o episódio dos 300 picaretas), batendo-se contra a Constituição, o Plano Real e outros marcos que os ditos democratizadores da virada dos 70⁄80 produziram.
Apoiado pela igreja católica e por intelectuais que mais tarde não o resistiriam, formou o seu sistema à base do culto pessoal, nos moldes dos mantidos por ditadores, tiranos e messiânicos de diferentes épocas. O fez porque encontrou parceiros e ambiente para tanto.
Agora, quando a casa caiu, como se diz no jargão policial, nada mais normal que o acusado se defender. O que nos parece exagerado é a importância que se procura atribuir a essa defesa. Os brasileiros, tanto os favoráveis quanto os contrários a Lula e ao petismo, têm de compreender que existem fatos a serem apurados e penas a serem aplicadas de acordo com o ordenamento jurídico pátrio.
E que isso deve valer, nas mesmas condições, para Lula e para qualquer outro cidadão brasileiro acusado do cometimento de ilícitos, desde o mais rico até o mais pobre.
Exageram os que ridicularizam o ex-presidente e, pelas redes sociais, pedem a sua prisão. Em vez disso, o ideal é que a polícia, o Ministério Público e a Justiça tenham condições de apurar detalhadamente as denúncias que pesam sobre seus ombros e dos e de seus parceiros e lhes atribuam a mais justa sentença.
Nem mais, nem menos do que o previsto para aquilo que comprovadamente tenham cometido. E, se da apuração restar comprovada a inocência, que esta seja proclamada com as devidas justificativas.
O país não pode viver permanentemente impactado pelo embate político-criminal. Faça-se a Justiça, de preferência, sem alarde…
*Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)