Lula e Dilma, talvez um racha
Geralmente os governantes quando assumem, valendo a repetição, estão com a caneta cheia, prestigiados, cheios de apoio, negociações encerradas, uma festa. Não é o caso de Dilma Rousseff. Presidente há 20 dias, mais parece estar encerrando o seu segundo governo.
Ministério fraco, embora com a participação de vários partidos. Até Kassab, ex-Serra, agora já desponta como liderança na Esplanada, com direito à figura de apaziguador entre o Governo Federal e sua titular e governantes de siglas aplaudidas mas pela oposição.
No Paraná, o chefe da Casa Civil de Richa, Eduardo Sciarra, é o interprete dos anseios paranistas com bom transito em Brasília. Coisas da política, por sinal aceitáveis, normais e integrantes do nosso dia-dia.
Dilma tomou posse, embora muitos duvidem. Ela é a presidente, quer Marta Suplicy queira, quer não. Se havia dúvidas de que o PT é um partido igual aos outros do firmamento brasileiro, já não há mais. Os petistas isso não proclamam mas as observações sobre a política interna no PT, feita por lideres dessa agremiação tudo esclarecem, já que lutam como outros partidos para devorar uns aos outros.
Na verdade, mesmo faltando quatro anos para Dilma deixar esse firmamento, já se espalha o terror nas hostes do Partido dos Trabalhadores. Uma luta que passa por 2016, mas tem tudo para o racha que pode ser apressado e jogar criatura contra criador. Lula é candidato à suceder sua sucessora.
Lula sempre quis, a começar por 2014, que a atual presidente fez por desconhecer o desejo de seu padrinho. Certo ou errado, o desgaste de Dilma, ainda que pesquisas a favorecessem, era motivo para Lula entrar na disputa e derrotar Aécio Neves ou outro líder da oposição que se aventurasse. Ou muitos se enganam ou Lula é ainda o maior eleitor deste país. Por isso, traquina que é, engole os sapos necessários e se prepara para 2018, logo ali na política.
Ou é Lula ou o PT se esfarela. Pode, naturalmente, surgir um líder capaz e com voto. Mas não necessariamente do PT. Jaques Wagner era apontado como possível. Ou não é mais, ou enfrenta o porvir ocupando uma função, no Ministério da Defesa, que o resguarde das tempestades.
José Eduardo Cardozo, sempre um nome para o diálogo com a oposição, se isso um dia for possível. Aloizio Mercadante vai, com muita habilidade, acabar com os restantes pretendentes. Em termos políticos, na Casa Civil, vai impedir o progresso político de outros concorrentes e tentar ser a bola da vez.
Mercadante pode fazer no posto o que outros e outras não fizeram, e até bem tentaram, inclusive a senadora Gleisi Hoffmann. Os petistas de modo geral têm com o que se divertir nos próximos anos, certo mesmo é cumprimento dos 16 anos à frente do Planalto.
Mas nada espantará se Lula e Dilma travarem uma luta fraticida, dando lugar aos ferimentos que isso apresenta, ou se espera que uma liderança nova ganhe corpo e surja como unificadora nas hostes trabalhistas. Pode até ser de outras bandas que não o PT. Um racha entre Dilma e seu lançador, Lula, seria a alegria de metade do país.
*Ayrton Baptista, jornalista