Madrasta dizia que menino era “semente do mal”, diz pai

Em depoimento à polícia obtido pelo jornal "Zero Hora", de Porto Alegre, o médico Leandro Boldrini, pai do garoto Bernardo, 11, assassinado em abril, em Três Passos (RS), afirmou que a madrasta do garoto "odiava" seu filho e o chamava de "semente do mal".
O inquérito, ao qual o depoimento dado no dia 16 de abril está anexado, afirma que, ao saber que o filho estava morto, Boldrini não externou nenhuma reação. Ele teria atribuído esse comportamento a um "medicamento que toma".
Esta semana, o advogado responsável pela defesa de Boldrini disse que pediria a dissolução da união estável do casal, uma decisão que o médico teria tomado após Graciele Ugolini admitir envolvimento na morte do garoto.
No depoimento, Leandro Boldrini, 38, deu sua versão sobre o que ocorreu nos dias que antecederam e se seguiram à morte do filho.
Segundo publicado no "Zero Hora", o médico disse que o medicamento Midazolam, um sedativo usado para endoscopia encontrado no corpo do garoto após a morte, era usado em sua clínica.
DIA DO CRIME – Boldrini contou também o que aconteceu no dia 4, quando o filho foi assassinado. Segundo ele, Graciele disse que levaria Bernardo para uma cidade vizinha, onde compraria uma televisão para presentear o enteado. O médico disse que ficou trabalhando e foi comunicado pela companheira que o menino iria dormir na casa de um amiguinho.
Boldrini contou à polícia o diálogo que teve com Graciele no dia 4 sobre o paradeiro do filho. Segundo o depoimento, a conversa foi a seguinte:
"Perguntou pelo Bernardo e Keli contou que estava dando banho na Maria (Valentina, filha do casal), quando ouviu barulho nas escadas e perguntou ‘é você Bernardo?’ e ele respondeu ‘sim, tô indo no Lucas’. Keli então disse ‘mas teu pai disse que não era para sair’ e Bernardo disse ‘o pai sabe que eu posso sair final de semana’".
Depois disso, diz Boldrini, ele ligou para o celular do filho, mas não se preocupou quando a ligação caiu na caixa postal. Voltou a ligar para o garoto no sábado à noite (dia 5) e no domingo, quando resolveu registrar um boletim de ocorrência do desaparecimento do filho.

“ESTOU ENVOLVIDO NISSO”?
O inquérito diz, segundo o jornal, que ao saber da morte de Bernardo na delegacia, o pai "não externou nenhuma reação". Leia o trecho do depoimento:
"Que minutos depois conversou com a Keli, que também já estava presa, e ela dizia ‘não sei, não sei’, e o interrogado perguntou ‘eu tô envolvido nisso, eu tô envolvido nisso’, ao que Keli respondeu ‘não’. Indagou Keli, perguntando se aconteceu alguma coisa com o menino. ‘Keli disse sim, então o interrogado desmoronou’. Não entende porque tanta barbárie, era só se separar, que ela fosse criar a Maria e eu ficava com o guri, sempre apoiando ela e a Maria".
No final do depoimento, ainda segundo o "Zero Hora", Leandro Boldrini afirmou aos policiais que a madrasta odiava Bernardo e considerava o garoto "uma semente do mal".
"O interrogado diz que ela tinha ódio do ‘guri’, e esclareceu que esse ódio se manifestava nos ‘arranca’ que dava entre os dois, eis que o Bernardo não aceitava ‘não’. Que Keli, enquanto estava sozinha com o interrogado, se referia ao Bernardo dizendo que ‘ele era uma semente do mal’, ‘que ele não tinha puxado em nada pelo interrogado, tudo por aquela louca da mãe dele que tinha se matado’ (referindo-se a Odilaine Uglione, mãe do menino que cometeu suicídio em 2010)".

O CRIME
Ber
nardo morava em Três Passos, no interior do RS, e desapareceu no dia 4 de abril. Dez dias depois, o corpo do garoto foi localizado numa cova rasa em um matagal em Frederico Westphalen (a 447 de Porto Alegre).
Leandro Boldrini, Graciele Ugolini e uma amiga do casal, a assistente social Edelvânia Wirganovicz, estão presos sob suspeita de envolvimento no crime.
Em depoimento na última semana, a madrasta afirmou à polícia que a morte ocorreu de forma "acidental". Ela disse ter dado remédios ao garoto, que estaria "agitado", para fazê-lo dormir. Em seguida, viu que o garoto não apresentava reações.
A defesa de Boldrini nega participação do crime e diz que o pai não tinha conhecimento do ocorrido. Já o advogado da assistente social, Demetryus Gapiglia, afirma que ela nega envolvimento, mas admite ter ajudado a ocultar o corpo.
Na semana passada, o resultado de uma perícia preliminar apontou a presença do sedativo Midazolam no corpo de Bernardo. A polícia ainda não sabe, porém, qual quantidade foi encontrada e se foi esta a causa da morte.
Segundo a Polícia Civil gaúcha, as investigações deverão ser concluídas até 13 de maio.