Mais Cinema exibe obra-prima de Clouzot

Na terça-feira, às 20h, o Projeto Mais Cinema vai exibir na Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade o filme “O Salário do Medo”, do cineasta francês Henri-Georges Clouzot. A obra-prima conta a história de quatro imigrantes europeus que são contratados por uma companhia petrolífera dos EUA para transportar uma carga de nitroglicerina pelas estradas precárias de um país do Terceiro Mundo. A entrada é gratuita.
Quando “O Salário do Medo” foi lançado em 1953, a França vivia o apogeu do existencialismo de autores como Jean-Paul Sartre, Albert Camus e Georges Arnaud, pensadores que influenciaram Henri-Georges Clouzot a criar um filme que mostra homens como indivíduos desorientados em um mundo cada vez mais caótico e aberrante, onde os valores são deglutidos pela esperança de sobrevivência. Na história, Mario (Yves Montand), Bimba (Peter Van Eyck), Luigi (Folco Lulli) e Jo (Charles Vanel) são personagens desgastados pela miséria que vivem no vilarejo de Las Piedras, onde decidem mercantilizar a vida em uma missão suicida que pode render dois mil dólares a cada um.
Os quatro são contratados por uma empresa estadunidense de petróleo para garantir que um carregamento de nitroglicerina chegue ao destino. Embora a missão seja na Guatemala, o filme de Clouzot deixa claro que a história poderia se passar em qualquer país de Terceiro Mundo, onde a dominação econômica dos EUA é quase sempre proeminente, deixando graves consequências como a degradação social e o esgotamento dos recursos naturais. Ironicamente, em um dos diálogos da obra, o personagem Mario parece visualizar tanto o presente quanto o futuro quando diz: “Onde tem petróleo, tem americanos”.
Além de fazer severas críticas ao capitalismo e ao neoliberalismo, mostrando que ninguém sofre mais com as ações dos países ricos do que as nações subdesenvolvidas, o cineasta francês ainda consegue emocionar o espectador com uma estética baseada no realismo poético. Logo na abertura, somos introduzidos por uma criança a um mundo de insetos mergulhados em uma poça de lama, metáfora que amarra toda a trama de “O Salário do Medo”.
Muitas cenas como a mencionada se repetem no decorrer do filme, transmitindo um sem número de mensagens que flertam com o niilismo. São imagens capazes de instigar reflexões e emoções conflitantes. Também é interessante a forma como Henri-Georges Clouzot aborda a perda da identidade dos personagens que sem sobrenomes se atêm a pequenos sonhos e devaneios de um dia se encontrarem novamente como parte de um algo concreto. Ao final da exibição de “O Salário do Medo”, o jornalista David Arioch analisa o filme e abre espaço para o público fazer perguntas.