Médico lamenta indiferença dos jovens sobre a AIDS

Em 1986, quando foi diagnosticado o primeiro caso de HIV/AIDS em Paranavaí, a cidade tinha um médico que, por contingências, começava a se dedicar ao tema. Passados 26 anos, Irineu Librenza, 57 anos, é referência. Continua firme, forte e único tratando os pacientes da região da Amunpar – Associação dos Municípios do Noroeste Paranaense. Mas, uma coisa mudou – e para pior: a postura da juventude.
Indiferentes em relação à doença, jovens contraem o vírus por falta de prevenção (camisinha, seringas compartilhadas) e vão sofrer os efeitos do ato impensado para o resto da vida. Atualmente a 14ª Regional de Saúde contabiliza 418 casos de HIV. Nem todos os pacientes estão ou vão ficar doentes de AIDS.
Nos últimos tempos, o cenário complicou e, em média, um novo paciente é detectado a cada semana. Diante do cenário, o médico sobe o tom: “Jovens burros”, sentencia, num misto de lamento e irritação ao traçar o perfil dos novos infectados.
Jovens de ambos os sexos são recebidos diariamente pelo médico para acompanhamento de HIV. No entanto, há um perfil que se destaca nas estatísticas: homossexuais masculinos, com cerca de 10% dos casos. Tanto que recentemente (2011) o Ministério da Saúde dedicou uma campanha voltada para esse público.
O médico reforça o alerta, sugerindo o uso de preservativo em toda relação sexual. Recorrendo a valores morais, sugere critérios, não apenas para esse público. Cita o caso de uma menina de 16 anos, diagnosticada com HIV. Ela se relacionava com o namorado. Mas, na investigação de praxe visando interromper a cadeia de transmissão, constatou-se 15 parceiros sexuais em um ano.  
EDUCAÇÃO E COMPROMISSO – Para Librenza, exemplos de que o avanço do HIV nos últimos meses é a consequência da falta de compromisso de parte dos novos pacientes. Ele credita a postura das novas gerações à ausência de educação de qualidade, tanto do setor público quanto do privado. Também a busca pelo prazer desenfreado (banalização do sexo, precocidade sexual, etc.), estimulada pelas mídias, influencia neste perfil.
Para fazer frente ao novo momento, Librenza prega mudanças na abordagem, inclusive em campanhas do Ministério da Saúde. Para ele, até então as campanhas surtiram efeito. Agora, analisa, é um novo momento, o que vai exigir mais agressividade. Mostrar que AIDS não é brincadeira e que é uma doença grave. Muita gente encara AIDS como uma doença banal, que vai “sarar feito gripe”.
LIMITES IMPOSTOS PELO HIV – A realidade é muito pior, já que a pessoa terá que se submeter a uma série de regras para levar vida saudável. Tomar medicamentos, consultas médicas mensais são apenas parte das consequências. Outras perdas importantes são sociais e até profissionais, já que os compromissos com o tratamento podem repercutir no trabalho.
Quem contraiu o vírus HIV tem a obrigação de falar para os seus eventuais parceiros sexuais, adverte. Omitir e se relacionar sem uso de preservativo é crime, já que, pelo entendimento, a pessoa assume o risco de matar (o que caracteriza dolo – intenção). Soma-se a isto um custo financeiro enorme para o Estado.
O tratamento é 100% gratuito na rede pública do país, bancado pelo Governo Federal. Em outras palavras, pago pelos brasileiros. Em média, seus custos são inferiores apenas ao tratamento de câncer. O médico lembra que somente cerca de 1% da população tem condições de custear o tratamento com recursos próprios.  
ESPERANÇA NO FUTURO – Ponderado, Irineu Librenza concorda que, ao contrário do que acontecia em 2006, HIV nos dias atuais não é uma sentença de morte. Ele analisa que na maioria dos casos é possível manter o paciente saudável.
Tomando os medicamentos regularmente, sem que haja efeitos colaterais, um jovem com HIV pode viver por 60 anos com o vírus. Otimista, aposta numa cura para a AIDS em cerca de dez anos. resumindo: embora haja tratamento, o jovem não precisa passar por essa situação de incerteza em relação ao futuro.
Formado pela Universidade Federal do Paraná – UFPR – em 1980, Irineu Librenza é clínico geral. Não trata apenas pacientes com HIV/ AIDS, sendo reconhecido como um dos profissionais de destaque nos serviços público e privado. Quando iniciou o trabalho com HIV, atendia casos de tuberculose. Acabou se deparando com doentes de AIDS, mais suscetíveis à tuberculose. Passou a ser referência no serviço público. Pensando no futuro, vislumbra o ingresso de um colega para assumir (ou dividir), o posto em breve.
A entrevista foi concedida a pedido do DN. Uma forma de mostrar a visão do médico em relação aos pacientes e a nova “onda” de transmissão do vírus, aproveitando o momento oportuno do Carnaval, quando há maior liberalidade em relação a alguns valores morais, refletindo no comportamento sexual de parte da população.