Ministro da Saúde pede cautela sobre mastectomia preventiva
"São recomendações que precisamos ver com muito cuidado. Já surgiram vários estudos que mostraram um número bastante grande de mastectomias realizadas em pacientes, em que depois se afastou o risco de câncer. Então, tem que ser analisado com muito cuidado e cautela, na relação do médico com paciente", afirmou ontem.
O assunto ganhou repercussão internacional após a atriz Angelina Jolie revelar que fez a cirurgia este ano, frente a um risco de 87% de desenvolver a doença, segundo a avaliação de seus médicos.
Padilha disse que não poderia opinar sobre a decisão de uma paciente específica, e afirmou que não há consenso mundial sobre a cirurgia como forma de prevenção à doença.
"Existem algumas abordagens mais radicais e outras abordagens, apoiadas em estudos, que demonstram que talvez seja melhor acompanhar a paciente para não ter que fazer uma cirurgia. Uma mastectomia não é uma cirurgia qualquer: prevê riscos, pode ter infecção, a mulher que retira o seio pode ter impacto psicológico", disse.
A orientação do Ministério da Saúde, continuou Padilha, é para que mulheres com história de hereditariedade de câncer de mama comecem o acompanhamento específico a partir dos 35 anos, seguindo as recomendações do médico para cada caso.
Retirar as mamas não é a única opção para prevenir o câncer, dizem médicos
Retirar as mamas, como fez Angelina Jolie, é apenas uma das formas de se lidar com o fato de ter um risco aumentado para desenvolver tumores de mama e de ovário.
Mulheres nessa situação podem optar pelo rastreamento mais frequente para o câncer de mama, intercalando a cada seis meses exames de mamografia e ressonância magnética.
Podem ainda começar os exames preventivos mais cedo do que o habitual – a partir dos 25 anos, por exemplo. Para a população feminina em geral, a recomendação é de mamografia a cada dois anos, a partir dos 50 anos.
Também é possível optar pela quimioterapia preventiva, com a droga tamoxifeno. Cada caso é um caso, dizem os médicos.
"É importante que as mulheres tenham pleno conhecimento de todas as opções que estão disponíveis. A mastectomia preventiva foi a escolha de Angelina Jolie, mas pode não ser o caso de uma outra mulher em situação similar", afirma o médico Richard Francis, chefe de pesquisa do instituto inglês Breakthrough Breast Cancer.
Segundo a médica Maria Isabel Achatz, diretora de oncogenética do Hospital A.C. Camargo, para as mulheres portadoras de mutação dos genes BRCA1 e BRCA2, a retirada dos ovários e das trompas é ainda mais prioritária do que a das mamas.
Isso porque não há exames preventivos eficazes para diagnosticar precocemente tumores nessa região.
"Em geral, os tumores de ovário são descobertos em estágios avançados e o desfecho é ruim", diz ela.
A médica afirma que, nos casos de mulheres que já tiveram lesões malignas nas mamas e que carregam a mutação, a mastectomia preventiva é claramente indicada.
A cirurgia, porém, não é isenta de riscos e os resultados podem não ser tão bons porque a retirada de tecido mamário e de gordura é muito maior do que numa colocação de próteses de silicone só para fins estéticos.
Quando se deixa a aréola, o mamilo e algum tecido (é sempre impossível remover tudo) também sobra um risco residual (de 5%) de o tumor se desenvolver.
Mulheres com essa mutação genética também têm risco aumentado para outros tipos de câncer. Para o tumor de pâncreas, por exemplo, o risco é de 10%.
"Homens também carregam essas mutações podem desenvolver câncer de pâncreas e de próstata e passar genes mutantes para os filhos, assim como as mulheres", reforça Richard Francis.