Missionários na caridade: Criatividade para mudar as estruturas

O texto bíblico do Evangelho de Marcos (6, 30-44) é muito significativo, dentre tantos outros que narram uma ação criativa de Jesus.
Ele percorre várias localidades, anuncia o Evangelho, compadece-se do povo sofrido, e faminto e realiza ações transformadoras.
Antecede a este texto de Marcos o relato da morte de João Batista por Herodes (6, 14-30), num banquete em ocasião ao aniversário de Herodes. Enquanto este faz um banquete de morte com os poderosos, Jesus realiza um banquete de vida com os Pobres e famintos, que estão como ovelhas sem pastor, ou seja, seus pastores Herodes e autoridades religiosas estão banqueteando-se e se fartando em seus egoísmos e interesses próprios.
Jesus sintoniza seu coração com as necessidades do povo, é solidário e projeta uma nova forma de vida. Desperta e compromete seus discípulos para, juntos e em comunhão, atenderem às necessidades do povo (“daí vós mesmo de comer”) e, em seguida, a partir do que o povo tem (cinco pães e dois peixes), multiplica o pão e sacia a multidão. Jesus anuncia uma nova forma de vida, em que a partilha e a organização, a comunhão e a participação são atitudes indispensáveis e fundamentais.
Esse texto, associado a tantos outros, mostra a novidade da mensagem e da prática de Jesus, mostra como Ele age: aliado aos Pobres, compassivo e atento aos seus apelos, remete aos discípulos a busca da solução, conta com a ação dos discípulos e com as pessoas e seus poucos alimentos; organiza a multidão faminta; realiza a ação transformadora e criativa. Jesus nos mostra que é necessário escutar a voz dos Pobres; também evidência a necessidade de irmos aos Pobres, e de servi-Los de maneira criativa.
Escutando a voz dos Pobres, entendidas como pessoas concretas e não conceitos abstratos (intelectuais), podemos compreender melhor quais estruturas devem ser mudadas.
Nesta “época pós-moderna” que descuida da dor humana, que concentra e exclui, que se isola no individualismo e se satisfaz no consumismo, os Pobres gritam a interpelam à Sociedade de São Vicente de Paula (SSVP), que é chamada a buscar novas formas e expressões de serviço, sem nunca perder a parcialidade e a cumplicidade com os Pobres.
Isso exige uma redescoberta do espírito profético para discernir e avançar em direção aos apelos de vida e justiça presentes na exclusão e no sofrimento dos Pobres. A consciência dos esforços e iniciativas tem sido perceptível: Missão, Juventude, Projetos Sociais, Conferências de Criança e Adolescentes, Formação e tantas outras iniciativas criativas que têm buscado romper com o ciclo da pobreza.
Esta consciência dos passos que estão sendo dados deve aumentar a esperança, a confiança e o compromisso num caminhar mais comprometido com os Pobres, de buscar de novas formas e expressões de serviço, com melhor qualidade evangélica na vida missionária vicentina.
Somos convocados a ir aos Pobres, ouvir sua voz e responder criativamente aos seus apelos!…Que diante do povo sofrido e abatido, São Vicente de Paula e o Bem Aventurado Antonio Frederico Ozanam continuem nos inspirado como verdadeiros missionários na caridade, que busca ações transformadora criativas da realidade injusta e sofrida de tantos irmãos e irmãs! (Padre Alexandre Nahass Franco)