Moro lamenta omissão da classe política contra combate à corrupção

Juiz Sérgio Moro falou no fórum da revista Veja segunda-feira à noite sobre falhas legislativas que permitem a corrupção, como o foro privilegiado e a falta de barreiras ao loteamento das estatais, como seu maior problema desde o início da operação, em 2014. “Minha maior frustração seria tudo o que fizemos não ir adiante”. Moro defendeu o que chamou de Plano Real contra a corrupção, referindo-se ao plano econômico que, segundo ele, teve aplausos tanto da direita quanto da esquerda. O juiz disse que é preciso ir além da redução do foro privilegiado e eliminar por completo essa prerrogativa, inclusive a magistrados. Afirmou também que é preciso criar bloqueios legislativos ao loteamento político das estatais, que levou às indicações políticas que permitiram desvios em empresas públicas como a Petrobrás. “O que se verifica é a quase completa omissão da classe política em promover medidas dessa espécie”, declarou.
Segundo Moro, a atuação única do Judiciário é insuficiente para resolver o problema e considerou ser uma grande responsabilidade colocar nas costas da Lava Jato a tarefa de reduzir a corrupção no Brasil. “Eu tinha a expectativa de que o tratamento (dos escândalos de corrupção) não ficasse restrito a cortes da Justiça”, disse. Moro avaliou que as eleições do ano que vem serão uma oportunidade de mudança na política e considerou que, ainda que as agendas econômica e social sejam importantes, o combate à corrupção precisa estar no centro do debate. Disse ter curiosidade sobre o que pensam os potenciais candidatos a respeito do foro privilegiado e do loteamento das estatais. “É preciso que quem postule tenha respostas a essas questões”.
Moro reafirmou que não pretende disputar qualquer cargo público porque isso colocaria em dúvida todo trabalho feito por ele até o momento. Disse que uma candidatura seria inapropriada neste momento e que também não vê essa possibilidade ocorrer no futuro. A propósito, o procurador Deltan Dallagnol, também disse que não é candidato a senador e que nenhum procurador da Lava Jato tem essa pretensão, pois seria comprometer o trabalho que tem sido feito até agora contra a corrupção.