Mulher de 21 anos conta drama por agressão sofrida dentro de casa
A cada 4 minutos, uma mulher é vítima de agressão no Brasil. A cada uma hora e meia acontece um feminicídio (morte de mulher por questões de gênero). Mais de 43 mil mulheres já foram assassinadas nos últimos 10 anos, boa parte pelo próprio parceiro.
Mas, embora 54% dos brasileiros conheçam uma vítima de violência doméstica, apenas 18,6% das mulheres admitem já ter sido vítima dessa violência. O medo ainda é o maior inibidor das denúncias de agressões contras as mulheres.
Por mais assustadores que sejam os números, muitas vezes eles parecem estar muito longe da nossa realidade. Mas não estão.
Em Paranavaí, o CREAS (Centro de Referência Especializado da Assistência Social) já atendeu este ano 65 mulheres vítimas de violência, 36 delas ainda estão sendo acompanhadas.
A Ana* (nome fictício) tem apenas 21 anos e está passando por acompanhamento no CREAS há pouco mais de três meses. “Fiquei com meu ex-marido por três anos e meio. Na época do namoro e até o final da gestação do meu primeiro filho, ele era muito diferente, carinhoso, atencioso. Mas quando eu estava pra ganhar meu menino mais velho, ele mudou. Começaram as agressões verbais, as humilhações, ameaças. Ele estava usando drogas, então ele ficava transtornado, surtava e vinha pra cima de mim. Eu ficava com muito medo. Sofri muito abuso psicológico, e ele sempre me dizia que se eu contasse pra alguém, se ele fosse preso por minha causa e um dia ele saísse, ele me mataria”, conta.
Ela diz que se viu perdida no meio daquele ambiente de violência. “Eu não tinha para onde correr. Minha família me virou as costas, a mãe dele ameaçava me tirar as crianças. Eu não sabia o que fazer, então eu só chorava. As pessoas diziam que eu que escolhi ele, então eu tinha que aguentar. Eu queria sair daquela situação, mas naquele momento eu não tinha pra onde ir. Até que, na última agressão, ele tentou me enforcar, pegou no meu pescoço e me levantou do chão, na frente do meu filho. Então eu saí da cidade e vim para Paranavaí em busca de ajuda de outra parte da minha família”.
Hoje, longe do ex-marido agressor, Ana diz que se sente uma mulher livre. “Agora eu posso deitar a cabeça no travesseiro sem medo de que alguém me mate ou faça algo comigo enquanto eu durmo. Hoje eu durmo tranquila, relaxo, tenho certeza de que vou acordar em segurança no outro dia. Meus filhos estão dormindo bem, estão alegres. Eu estou me libertando daquele trauma e tentando ser feliz”, afirma.
Para a psicóloga do CREAS, Tânia Mara da Rosa, a violência contra a mulher não está ligada à condição social.
“As pessoas tendem a pensar que só as pessoas com uma condição social mais baixa é que sofrem este tipo de agressão. Desde que estamos atendendo aqui no CREAS, já recebemos mulheres de classe média, classe alta, com nível superior. Atendemos vítimas que são casadas há quase 30 anos, sofreram muita violência psicológica, agressão física, e só agora decidiram dar um basta nesta situação. O fator mais visível para nós, é que todas as mulheres que sofrem violência, seja ela psicológica ou física, adoecem. Todas elas chegam a um grau de dificuldade a nível de saúde mental, desenvolvem uma ansiedade que se torna um transtorno como a síndrome do pânico, depressão, isolamento social”, avalia.
E a violência causada à mulher reflete diretamente em outras pessoas da família.
“Quando esta mulher tem filhos, as crianças acabam sofrendo junto com ela e crescem num ambiente de violência, de tensão. Muitas vezes, os filhos também desenvolvem problemas mentais e fobias sociais quando crescem. No caso da Ana*, por exemplo, ela foi agredida na frente do filho pequeno. Agora, todo homem que chega perto da mãe, causa nele uma reação de pânico, de começar a chorar, de ficar nervoso, porque ele acha que a mãe vai ser agredida de novo. Então a mãe está sendo acompanhada aqui no CREAS e tentando lidar com esse trauma que ficou no filho também”, frisa a psicóloga.
Segundo a coordenadora do CREAS, Fernanda Romera Barbiratto Costa, “os maridos ou ex-companheiros normalmente são os agressores. Além da violência física, os casos estão envolvidos em muita violência psicológica. Isso causa nas mulheres um sentimento de impotência, inadequação e inferioridade, o que leva à insegurança e ao medo de tomar a decisão de denunciar ou procurar ajuda”.
No Brasil, há apenas 500 Delegacias Especiais para atender às mulheres agredidas. Uma delas fica em Paranavaí.
“Aqui no CREAS, nós atendemos as mulheres encaminhadas através da Delegacia da Mulher, pelos órgãos de segurança ou aquelas que nos procuram por vontade própria. Devido essa dificuldade que muitas têm de denunciar e procurar ajuda, às vezes as mulheres também podem ser encaminhadas através das UBSs, escolas, Conselho Tutelar, por denúncias de vizinhos ou amigos”, frisa Fernanda.
Para denúnciar casos de violência contra a mulher, basta ligar para o Disque 100 ou diretamente para o CREAS, no telefone 3902-1017.