Mulheres rurais se destacam em diferentes atividades e buscam acesso a direitos

BRASÍLIA – Pescadoras, agricultoras, poetisas, artesãs, embaixadoras, extrativistas, indígenas e quilombolas. O protagonismo das mulheres rurais reflete a diversidade da atuação feminina em campo. 
Antes vistas meramente como ajudantes, as trabalhadoras rurais têm se destacado em diferentes etapas do processo produtivo de alimentos e outras atividades relacionadas à geração de renda e desenvolvimento econômico social no campo.
Dar visibilidade ao trabalho promovido por estas mulheres é o principal objetivo da 4 ª edição da campanha #Mulheres Rurais, Mulheres com Direitos, lançada pela Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
A campanha deste ano tem como tema “Pensar em igualdade, construir com inteligência, inovar para mudar”. O eixo condutor da iniciativa é a importância de valorizar os direitos das mulheres rurais em todos os níveis, desde as garantias individuais até coletivas, e promover condições para o cumprimento das metas de igualdade de gênero e fim da pobreza rural estabelecidas no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
A mobilização ocorrerá até o mês de dezembro com atividades que priorizam o papel das mulheres rurais, indígenas e afrodescendentes na produção sustentável de alimentos saudáveis e nutritivos, principalmente no contexto de crescimento dos níveis de insegurança alimentar na região da América Latina e Caribe.
A campanha também visa estimular a adoção de medidas que facilitem o acesso delas a recursos e sistemas produtivos de inovação, de forma a aumentar a representação das mulheres no campo da ciência e do uso de novas tecnologias.
PERFIL – Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 15 milhões de mulheres vivem na área rural, o que representa 47,5% da população residente no campo no Brasil.
Considerando a cor e raça das mulheres habitantes da área rural, mais de 56% delas se declaram como pardas, 35% brancas e 7% pretas. As indígenas compõem 1,1% da população rural feminina, de acordo com o IBGE.
Entre as mais de 11 milhões de mulheres com mais de 15 anos de idade que viviam na área rural em 2015, pouco mais da metade (50,3%) eram economicamente ativas. Considerando o rendimento médio, cerca de 30% ganhavam entre meio e um salário mínimo e quase 30% não tinham rendimento.
Segundo o último Censo Agropecuário do IBGE, quase 20% dos empreendimentos rurais do país são dirigidos por mulheres. Em 2006, o percentual de mulheres rurais empreendedoras era de 12%. “É um salto significativo, mas ainda é muito pouco, quando sabemos que de 70% a 80% dos alimentos são produzidos pelas mulheres rurais, principalmente os alimentos para autoconsumo”, comenta Geise Mascarenhas, consultora da Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Mapa e uma das coordenadoras da campanha.
A consultora destaca que, apesar da participação significativa no desenvolvimento das comunidades locais, a identidade e o trabalho exercido pelas mulheres rurais ainda não são reconhecidos pela sociedade. A falta de dados atualizados ou mais detalhados sobre o perfil e as demandas das mulheres desafia agentes responsáveis pela formulação de políticas públicas voltadas para esse público.
“A primeira campanha foi lançada com o objetivo de envolver as mulheres, exatamente para conhecê-las. Quem são as mulheres rurais, onde elas estão, o que elas fazem? As histórias são belíssimas e nos ajudaram a delinear as outras campanhas”.
A especialista ressalta que o Brasil está avançando na coleta dessas informações. O Mapa firmou um acordo com o IBGE, que está criando um banco de dados e aprimorando o levantamento de informações agropecuárias com a perspectiva de gênero.
Em âmbito regional, estudos da FAO mostram que a pobreza atinge o que representa quase metade ou 59 milhões das pessoas que vivem nas áreas rurais dos países da América Latina. A extrema pobreza chega a 22,5% da população rural da região. E a maioria dos pobres na área rural do continente é formada por mulheres.