“Nada justifica o estupro”, afirma professora da Unespar de Paranavaí
“Nada, absolutamente nada justifica o estupro”. A declaração da professora Isabela Campoi, do Colegiado de História da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) de Paranavaí, foi feita durante o evento “Cultura do estupro em debate”, realizado na noite de sexta-feira.
De acordo com a professora, é preciso questionar a naturalização da violência contra as mulheres. “A sociedade culpa a vítima e naturaliza o comportamento dos homens”. Historicamente, explicou Isabela, a cultura do estupro está ligada à ideia de que o espaço público deve ser ocupado por eles. A elas, cabe somente o privado.
A manifestação da professora levou em conta o fato de as definições de gênero serem construídas a partir de bases sociais e culturais ao longo de toda a história, que garantem privilégios aos homens. O resultado desse processo é a opressão às mulheres.
O debate que teve início com a fala de Isabela ocorreu na sede do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e reuniu dezenas de convidados. Foi motivado, principalmente, pelo caso de estupro coletivo no Rio de Janeiro, que teve repercussão nacional: no final de maio, uma jovem foi violentada por mais de 30 homens.
A partir desse episódio, grupos sociais se mobilizaram para ampliar a discussão sobre a cultura do estupro. Nesse sentido, a comunidade acadêmica da Unespar de Paranavaí organizou o evento de sexta-feira, reunindo professoras e estudantes para liderarem o debate.
A iniciativa teve a participação dos seguintes movimentos: Núcleo de Estudo e Pesquisa em Diversidade Sexual (Nudes), Frente Emancipada de Mulheres Empoderadas (Feme) e Grupo de Pesquisa Gênero, Trabalho e Políticas Públicas (GPGTPP).
Integrante do Nudes e da Feme, Paula Van-Dal falou sobre o papel da escola no combate à cultura do estupro. Na avaliação dela, o ambiente escolar precisa ir além da propagação do conhecimento científico. A educação deve ser voltada, também, para a construção de valores, o estímulo ao pensamento crítico e a formação cidadã.
Mas ainda há situações que precisam ser questionadas. Os livros didáticos tendem a colocar a mulher em segundo plano, dando destaque para os homens. Essa abordagem estimula a inferiorização feminina e “ajuda a construir valores distorcidos”, disse Paula.
E não basta questionar apenas a elaboração dos materiais utilizados pelos professores em sala de aula. Deve-se incentivar o questionamento e fazer com que os alunos “pensem nos discursos que estão usando, principalmente com as mulheres, que são as que mais sofrem”.
Para Camila Lemes, que participa da Feme e foi uma das debatedoras da noite, a cultura do estupro está diretamente ligada à perpetuação da violação do corpo da mulher. “Não está só no hediondo, no assustador. Está nas músicas, nos meios de comunicação, nas redes sociais”.
Um dos problemas apontados por Camila diz respeito à naturalização da violação do corpo da mulher. A análise feita por ela é que se trata de uma questão estrutural que permite culpar a vítima pelo estupro.
Amanda Ribeiro também é integrante da Feme e participa do Nudes. Ao se manifestar durante o debate, ela destacou que o corpo da mulher é utilizado como produto publicitário. “Existe uma hipersexualização. A mulher é vista como objeto”, disse, citando comerciais de moda e de cervejas.
Outro ponto que recebeu atenção de Amanda é o papel dos veículos de comunicação. Em muitos casos, argumentou, a imprensa suaviza o comportamento dos estupradores ao omitir a palavra “estupro” e substituí-la por termos mais brandos.
A avaliação da professora Maria Inez Barboza Marques, do Colegiado de Serviço Social da Unespar de Paranavaí, é que a cultura do estupro independe de fatores econômicos e sociais. Propaga-se em todos os espaços, inclusive nas instituições de ensino superior.
Segundo a docente, as mulheres vítimas de estupro enfrentam dificuldades após sofrerem a violência. Ela citou “a falta de segurança, o silêncio das autoridades e o relativismo”. As agressões, argumentou Maria Inez, são frutos do sistema que, muitas vezes, estimula as mulheres a se calarem.
Números da cultura do estupro
Durante as discussões da noite de sexta-feira sobre a chamada cultura do estupro, as mulheres que conduziram o evento apresentaram alguns números que reforçam o argumento de que se trata de um problema que precisa ser combatido urgentemente.
O evento foi realizado na sede da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) de Paranavaí e reuniu dezenas de convidados. “Cultura do estupro em debate” foi uma ação conjunta de grupos que tratam sobre gênero, sexualidade e feminismo.
Na ocasião, foram destacados números como: 88% das vítimas de estupros são mulheres; 90% das agressões são praticadas por homens. Enfatizou-se, também, que a cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil. Outra questão discutida foi a idade média em que as mulheres sofreram o primeiro assédio: 9 anos.
“Viver sem violência”, campanha da OAB
Na noite de sexta-feira, dezenas de pessoas se reuniram na Universidade Estadual do Paraná (Unespar) de Paranavaí para o evento “Cultura do estupro em debate”. Na ocasião, a vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), subseção de Paranavaí, Valéria Canalle, falou sobre a campanha “Viver sem violência”, que será lançada no próximo mês.
Presidente da Comissão da Mulher Advogada, ela afirmou, durante o evento de sexta-feira, que a iniciativa da OAB é para mostrar o repúdio às inúmeras manifestações de violência contra as mulheres. “Esse tema deve ser tratado com firmeza”. Valéria enfatizou: “Viver sem violência é um direito das mulheres”.
A primeira ação da campanha da OAB será uma passeata por ruas de Paranavaí, programada para o dia 16 de julho. A ideia é que também sejam feitos debates nas escolas da cidade, para envolver crianças e adolescentes nessa discussão. Outra proposta é oferecer orientação jurídica gratuita a mulheres vítimas de violência.