“Nós estamos perdendo esse jogo para o tráfico”, alerta diretor da SESP
“O traficante está sendo mais esperto. Diferente da gente, diferente da nossa organização, o crime é muito bem organizado. (…) Estamos (a sociedade) perdendo esse jogo. Mas precisamos mudar isso”.
O comentário é do diretor do Departamento Estadual de Políticas Sobre Drogas (DEPSD), ligado à Secretaria de Segurança Pública (SESP), João Iensen. Ele esteve ontem em Paranavaí, participando da reunião do Conselho Municipal de Políticas Públicas sobre Drogas (Comud).
A situação é grave. “Infelizmente nós temos um aumento diário de drogas, de usuários. A idade mínima do primeiro uso tem diminuído. Antigamente a média brasileira era 13-14 anos, hoje temos casos de crianças com 9 anos já usando”, revela Iensen.
Para ele, esse quadro só muda com investimentos na prevenção, indo às escolas com palestras, indo ao educador e aos pais pedindo para eles “mostrarem às crianças que temos um outro caminho, sem a droga (uso) e tráfico”.
Ele admite que enquanto a família, educadores e governo tentam realizar um trabalho preventivo, com a conscientização da criança, o tráfico trabalha em sentido oposto e vai levando vantagem. “O traficante vai preparando a criança ainda muito pequeno para trabalhar no tráfico, ajudando ele, pagando estudo, armando essas crianças. Ao dar uma arma, o crime empodera a criança, que se sente valorizada e reconhecida”, conta o diretor da SESP.
ENXUGANDO GELO – João Iensen lamenta que não se valoriza a recuperação de algumas pessoas, embora o jogo esteja favorável ao tráfico. “Tenho escutado muito por aí que a política pública de droga tem enxugado gelo, porque todo dia a gente perde criança para as drogas. Mas se a gente perde três e recupera um já é uma grande coisa”, diz ele.
Neste sentido, o diretor reconhece que “as comunidades terapêuticas têm um papel importante e, as vezes, nem é tão valorizada. Mas uma pessoa recuperada e reinserida na sociedade tem muito valor”.
Por fim Iensen esclarece que em razão de o DEPSD estar ligado à Secretaria de Segurança, “muita gente pensa que nosso trabalho é só repreensão, bomba, tiro, prisão”. Mas o Departamento – esclarece ele – procura organizar uma rede de proteção às crianças num trabalho preventivo, principalmente com as secretarias de Saúde e de Educação.