Nova aposta contra o câncer pode ser aprovada em 5 anos, diz laboratório

SÃO PAULO – Menos agressiva para o organismo, a imunoterapia é a grande promessa para o tratamento do câncer nos próximos anos, principalmente se combinada a outras técnicas, como a quimioterapia e a terapia alvo.
Mas, para que essa nova fronteira esteja acessível aos pacientes, o Brasil precisa derrubar barreiras em relação à pesquisa clínica e aprovação dos medicamentos, segundo especialistas que participaram do fórum O Futuro do Combate ao Câncer, promovido pela Folha de S.Paulo, com patrocínio dos laboratórios Bristol-Myers Squibb e MSD.
"A expectativa é que em cinco anos tenham sido aprovados no Brasil medicamentos para tratamento de câncer de pulmão, rins e melanomas", afirma Luciana Fanti, diretora médica de oncologia do laboratório MSD, uma das indústrias que estão na corrida pelo desenvolvimento de novas drogas imunoterápicas, com 120 pesquisas em andamento em todo o mundo.
A imunoterapia é considerada revolucionária porque busca fortalecer o sistema imunológico para que ele passe a combater o tumor – princípio bem diferente da quimioterapia, cujos medicamentos agem para matar as células cancerígenas, mas acabam aniquilando também células saudáveis. A imunoterapia estimula as células de defesa do organismo a combater as células do câncer, utilizando para isso substâncias modificadoras da resposta biológica.
"O sistema imune não tem uma arma só, ele tem um arsenal, como os linfócitos, os macrófagos e as substâncias que a célula produz para atingir as células anormais", explica Marcelo Cruz, oncologista clínico do Centro de Oncologia Antonio Ermírio de Moraes, ligado à Beneficência Portuguesa.
Além disso, o sistema de defesa do organismo possui memória, por isso algumas vacinas tomadas na infância ainda surtem efeito na vida adulta. Na imunoterapia, isso é eficaz porque caso o tumor ‘drible’ o tratamento convencional, o sistema imunológico pode recorrer à memória para continuar combatendo as células cancerígenas.
Os ensaios clínicos randomizados realizados nos Estados Unidos e Europa tem demonstrado que a imunoterapia traz bons resultados em tumores agressivos, como melanomas e cânceres de pulmão.
No cenário internacional, o Brasil está atrasado na corrida das pesquisas clínicas envolvendo a imunoterapia, pois requer aprovação tripla para a liberação de um novo medicamento: a primeira fase passa por um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), depois pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e depois é submetida à Anvisa.
A aprovação de novos medicamentos leva em média de 10 a 14 meses, enquanto nos EUA o processo dura cerca de 45 dias. Na prática, nenhuma droga imunoterápica está disponível no mercado brasileiro, exceto para pacientes inscritos em pesquisas clínicas.
"A dificuldade de acesso dos pacientes só pode ser quebrada com a pesquisa clínica, que oferece oportunidade a tratamento de ponta. Os desafios burocráticos ainda são grandes, mas o potencial é enorme", diz Fábio Franke, coordenador do Centro de Alta Complexidade em Oncologia do Hospital de Caridade de Ijuí. Com um centro de alta complexidade, a pequena cidade no interior do Rio Grande do Sul tornou-se referência para a pesquisa clínica em oncologia, com 94% dos pacientes vindos do SUS.
No Brasil, além da demora na aprovação das drogas, o preço do tratamento será outro desafio a ser enfrentado.
"O acesso é o maior desafio e o preço do medicamento, uma das variáveis desse desafio", diz Fanti, do laboratório MSD. Segundo ela, o preço dos medicamentos passam pelo crivo da Anvisa, com base no valor praticado em outros países. No caso de compras públicas, também é feita uma negociação específica com o governo.
Além da negociação dos preços, outra estratégia para ampliar o acesso é avaliar que pacientes podem se beneficiar mais do tratamento, já que algumas drogas podem ser eficazes para 20% dos pacientes de um determinado câncer, mas não funcionar para os demais 80%.
Os estudos vêm demonstrando que a imunoterapia é eficaz não só no tratamento de tumores sólidos, mas também hematológicos, o que amplia seu raio de utilização. "Hoje as pesquisas clínicas são conduzidas de modo a contemplar um grande número de tumores, com respostas até então nunca atingidas", diz Angélica Dimantas, diretora médica de imuno-oncologia do laboratório BMS Brasil. A redução dos efeitos colaterais, quando comparados ao de um tratamento quimioterápico é outra vantagem da imunoterapia.
Segundo Franke, do Hospital de Caridade de Ijuí, os ensaios realizados em pacientes acometidos por melanomas e câncer de pulmão apontam para uma grande melhora da qualidade de vida dos doentes quando submetidos a imunoterapia, em comparação com os efeitos da quimioterapia. "Eles ficam menos debilitados e não apresentam queda de cabelo nem náuseas. Temos visto um controle da doença com recuperação da vitalidade", diz. Apenas 1% dos pacientes apresentam algum efeito colateral mais graves decorrentes de respostas do sistema imunológico, aponta o pesquisador.