O café em extinção em Paranavaí
O Norte do Paraná, historicamente, constituiu-se numa das maiores regiões produtoras de café do País, desde o início do século passado, quando os “barões do café” de São Paulo começaram a migrar para a região em busca de novas terras.
Desde os anos 1940 Paranavaí situou-se entre as regiões mais produtoras do Estado e, portanto, do Brasil. Seu território estendia-se entre os Rios Paraná, Paranapanema e Ivaí, onde foi plantada uma vastidão verde de café.
Apesar das intensas geadas cíclicas, em 1987 a região de Paranavaí ainda era aquinhoada com cerca de 66.465 hectares plantados, sendo 5.850 hectares somente no município criado em 1951.
A Secretaria de Estado da Agricultura registrava então a existência de 64.865.000 covas (pés) de café na região, das quais 5.965.000 somente em Paranavaí. Isto gerava uma produção por safra de 1.280.775 sacas de 40 quilos em coco, das quais 149 mil em plantações locais.
O barracão localizado na Coloninha do Jardim São Jorge (Rua Pioneiro Simião, esquina com Rua Tupi), construído pela Rede Ferroviária Federal S/A em 1959, para armazenar o café que seria transportado pelo trem, que nunca chegou a Paranavaí, foi capaz de armazenar em 1968 cerca de 1.120.000 sacas de café.
“Foi a maior safra que tivemos”, lembrava o empresário Edmar Rotondo em entrevista ao Diario do Noroeste no ano passado. Ele veio de Londrina para Paranavaí em 1961 para gerenciar o barracão da RFFSA através da subsidiária Rede de Armazéns Gerais Ferroviários, da qual era funcionário.
Outro que veio para Paranavaí como funcionário da mesma Rede foi Mário Schiavo, que atuou na empresa entre 1982 e 1992, cuja entrevista também foi publicada pelo Diário do Noroeste no ano passado. Entre os anos 1950 e 1960 o café era a principal fonte de riqueza da região e ocupava 64% das terras cultivadas, mostram os dados.
A geada de 1975 foi um marco na produção cafeeira do Norte e principalmente do Noroeste do Paraná – Microrregião de Paranavaí, embora a de 1955, para alguns, tenha sido até mais rigorosa.
Embora menos severas, as várias geadas deste ano foram como um tiro de misericórdia. Restavam pouco mais de 70 produtores. Numa recente reunião com autoridades agrícolas da região, cerca de 50 ainda disseram que iriam insistir, embora o café já não fosse sua atividade agrícola principal.
A área plantada já nem chega perto daquela de outrora e hoje se restringe a 170 hectares em Paranavaí e 1.910 hectares em toda a região, de acordo com levantamento de produção cafeeira da safra 2011/2012 por sistema de cultivo do Núcleo Regional da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento.
Depois de 1975 foi experimentada uma nova técnica: o plantio por adensamento (mais compacto, com mais covas em menos extensão de terra), que melhorou a produção, embora o café já não tivesse mais força na região.
Outro problema: sem maquinário para colher, o antigo sistema de derriça danificava muito os pés de café, pela falta de melhor preparo e experiência dos colhedores, que já buscavam trabalhos mais compensadores em outros segmentos de produção.
Os dados de 2013 não estão ainda consolidados, o que ocorrerá só no início do ano que vem, mas o técnico do Departamento de Economia Rural (Deral), Ênio Debarba, prevê que deve fechar com uma defasagem em torno de 30%, já que a tendência é a redução.
O técnico do Deral da SEAB, Enio Debarba, mestre em Desenvolvimento Regional e Planejamento Ambiental pela Universidade do Estado de São Paulo (UNESP), acompanha com interesse o processo de cultivo do café nos 29 municípios do Extremo-Noroeste ou Norte Novíssimo do Paraná, que integram a Microrregião de Paranavaí e do Núcleo da SEAB.
Para ele, a redução do plantio de café na região de Paranavaí está ligada ao tripé: clima, economia e técnica. Quando começou o plantio, um dos problemas principais era o clima severo (geadas).
Em seguida foram os problemas técnicos: pragas como bicho mineiro, nematóide, problemas de raiz, que exigiam encaminhamento delicado e custoso. Os produtores não tinham muitos recursos para fazer os tratos e desanimaram. A economia (preço) não acompanhou.
Entremeio a isso tudo houve grupos de produtores que conseguiram construir grandes fortunas e formaram grande patrimônio.
“Os de menor recurso tiveram trajetória difícil”, observa Debarba, para quem o custo acabou atingindo, é claro, os menores, que não conseguiam fazer frente à demanda das necessidades técnicas. Alguns (como no Norte Pioneiro) permaneceram com suas lavouras, e ainda vivem do café. Mas por aqui não. Houve adequação: uns desistiram, outros diminuíram suas áreas e buscaram outros caminhos agrícolas.
“O problema sempre é mais severo para os pequenos proprietários”, disse Debarba ao Diario do Noroeste. Os custos de tratamento para pequenos e médios ou grandes são quase os mesmos. Por aqui, desde 1930, só tivemos pequenos e médios produtores, enquanto que no Norte Pioneiro tivemos os grandes.
“Nos últimos anos – observa Debarba – surgiu um novo grau de dificuldade: a escassez de mão de obra. Sempre trabalhamos pelo sistema de percenteiro, meeiro e foi aumentando a dificuldade, como um efeito cascata.
Outro problema: os filhos foram crescendo, saíram para estudar fora e a maior parte não voltou para continuar a lavoura do pai, por abraçar profissões que mais condiziam com seus anseios pessoais. Foi se desfazendo o elo familiar. O pequeno produtor acabou desmotivado a continuar.
No início da colonização o café foi uma grande mola que impulsionou o desenvolvimento de Paranavaí e cidades da região, favoreceu a abertura de uma intensa mata virgem e deu aos proprietários uma condição favorável economicamente, e com esta situação eles conseguiram fazer novas opções, dedicando-se a outras atividades por causa do lastro que construíram.
Debarba observa que é uma realidade diferente para pequenos e grandes produtores. O foco referente ao café foi desviado do Noroeste/Norte do Paraná para Estados como Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia, hoje grandes produtores.
Debarba comenta que “a tendência do café como produto de geração de trabalho e riqueza é desaparecer na região. Tecnicamente já desapareceu. O café tornou-se um produto ´inelástico´: o consumo é o mesmo, mas o preço é limitado. E nessas condições o produtor não tem mais condições de retomar a lavoura. Temos uma nova realidade, no caso de Paranavaí, com o deslocamento dos produtores para cana, mandioca, laranja, culturas que dão mais garantia e outras que mudam constantemente a visão da exploração econômica. “O empresário agrícola tem que ver bem antes e depois da porteira”, diz Debarba.
Desde os anos 1940 Paranavaí situou-se entre as regiões mais produtoras do Estado e, portanto, do Brasil. Seu território estendia-se entre os Rios Paraná, Paranapanema e Ivaí, onde foi plantada uma vastidão verde de café.
Apesar das intensas geadas cíclicas, em 1987 a região de Paranavaí ainda era aquinhoada com cerca de 66.465 hectares plantados, sendo 5.850 hectares somente no município criado em 1951.
A Secretaria de Estado da Agricultura registrava então a existência de 64.865.000 covas (pés) de café na região, das quais 5.965.000 somente em Paranavaí. Isto gerava uma produção por safra de 1.280.775 sacas de 40 quilos em coco, das quais 149 mil em plantações locais.
O barracão localizado na Coloninha do Jardim São Jorge (Rua Pioneiro Simião, esquina com Rua Tupi), construído pela Rede Ferroviária Federal S/A em 1959, para armazenar o café que seria transportado pelo trem, que nunca chegou a Paranavaí, foi capaz de armazenar em 1968 cerca de 1.120.000 sacas de café.
“Foi a maior safra que tivemos”, lembrava o empresário Edmar Rotondo em entrevista ao Diario do Noroeste no ano passado. Ele veio de Londrina para Paranavaí em 1961 para gerenciar o barracão da RFFSA através da subsidiária Rede de Armazéns Gerais Ferroviários, da qual era funcionário.
Outro que veio para Paranavaí como funcionário da mesma Rede foi Mário Schiavo, que atuou na empresa entre 1982 e 1992, cuja entrevista também foi publicada pelo Diário do Noroeste no ano passado. Entre os anos 1950 e 1960 o café era a principal fonte de riqueza da região e ocupava 64% das terras cultivadas, mostram os dados.
A geada de 1975 foi um marco na produção cafeeira do Norte e principalmente do Noroeste do Paraná – Microrregião de Paranavaí, embora a de 1955, para alguns, tenha sido até mais rigorosa.
Embora menos severas, as várias geadas deste ano foram como um tiro de misericórdia. Restavam pouco mais de 70 produtores. Numa recente reunião com autoridades agrícolas da região, cerca de 50 ainda disseram que iriam insistir, embora o café já não fosse sua atividade agrícola principal.
A área plantada já nem chega perto daquela de outrora e hoje se restringe a 170 hectares em Paranavaí e 1.910 hectares em toda a região, de acordo com levantamento de produção cafeeira da safra 2011/2012 por sistema de cultivo do Núcleo Regional da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento.
Depois de 1975 foi experimentada uma nova técnica: o plantio por adensamento (mais compacto, com mais covas em menos extensão de terra), que melhorou a produção, embora o café já não tivesse mais força na região.
Outro problema: sem maquinário para colher, o antigo sistema de derriça danificava muito os pés de café, pela falta de melhor preparo e experiência dos colhedores, que já buscavam trabalhos mais compensadores em outros segmentos de produção.
Os dados de 2013 não estão ainda consolidados, o que ocorrerá só no início do ano que vem, mas o técnico do Departamento de Economia Rural (Deral), Ênio Debarba, prevê que deve fechar com uma defasagem em torno de 30%, já que a tendência é a redução.
O técnico do Deral da SEAB, Enio Debarba, mestre em Desenvolvimento Regional e Planejamento Ambiental pela Universidade do Estado de São Paulo (UNESP), acompanha com interesse o processo de cultivo do café nos 29 municípios do Extremo-Noroeste ou Norte Novíssimo do Paraná, que integram a Microrregião de Paranavaí e do Núcleo da SEAB.
Para ele, a redução do plantio de café na região de Paranavaí está ligada ao tripé: clima, economia e técnica. Quando começou o plantio, um dos problemas principais era o clima severo (geadas).
Em seguida foram os problemas técnicos: pragas como bicho mineiro, nematóide, problemas de raiz, que exigiam encaminhamento delicado e custoso. Os produtores não tinham muitos recursos para fazer os tratos e desanimaram. A economia (preço) não acompanhou.
Entremeio a isso tudo houve grupos de produtores que conseguiram construir grandes fortunas e formaram grande patrimônio.
“Os de menor recurso tiveram trajetória difícil”, observa Debarba, para quem o custo acabou atingindo, é claro, os menores, que não conseguiam fazer frente à demanda das necessidades técnicas. Alguns (como no Norte Pioneiro) permaneceram com suas lavouras, e ainda vivem do café. Mas por aqui não. Houve adequação: uns desistiram, outros diminuíram suas áreas e buscaram outros caminhos agrícolas.
“O problema sempre é mais severo para os pequenos proprietários”, disse Debarba ao Diario do Noroeste. Os custos de tratamento para pequenos e médios ou grandes são quase os mesmos. Por aqui, desde 1930, só tivemos pequenos e médios produtores, enquanto que no Norte Pioneiro tivemos os grandes.
“Nos últimos anos – observa Debarba – surgiu um novo grau de dificuldade: a escassez de mão de obra. Sempre trabalhamos pelo sistema de percenteiro, meeiro e foi aumentando a dificuldade, como um efeito cascata.
Outro problema: os filhos foram crescendo, saíram para estudar fora e a maior parte não voltou para continuar a lavoura do pai, por abraçar profissões que mais condiziam com seus anseios pessoais. Foi se desfazendo o elo familiar. O pequeno produtor acabou desmotivado a continuar.
No início da colonização o café foi uma grande mola que impulsionou o desenvolvimento de Paranavaí e cidades da região, favoreceu a abertura de uma intensa mata virgem e deu aos proprietários uma condição favorável economicamente, e com esta situação eles conseguiram fazer novas opções, dedicando-se a outras atividades por causa do lastro que construíram.
Debarba observa que é uma realidade diferente para pequenos e grandes produtores. O foco referente ao café foi desviado do Noroeste/Norte do Paraná para Estados como Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia, hoje grandes produtores.
Debarba comenta que “a tendência do café como produto de geração de trabalho e riqueza é desaparecer na região. Tecnicamente já desapareceu. O café tornou-se um produto ´inelástico´: o consumo é o mesmo, mas o preço é limitado. E nessas condições o produtor não tem mais condições de retomar a lavoura. Temos uma nova realidade, no caso de Paranavaí, com o deslocamento dos produtores para cana, mandioca, laranja, culturas que dão mais garantia e outras que mudam constantemente a visão da exploração econômica. “O empresário agrícola tem que ver bem antes e depois da porteira”, diz Debarba.