O comunismo morreu?

Rogério J. Lorenzetti*

"Hoje milhões de crianças dormirão na rua, nenhuma delas é cubana" (Fidel Castro)

Morre um dos maiores mitos da história recente da humanidade. Fidel Castro não praticou somente o comunismo, ele era um dos líderes máximos do sistema.

Embora tenha praticado injustiças e atrocidades na sua ascensão ao poder em Cuba, foi um corajoso revolucionário que enfrentou forças muito superiores e, de forma valente, conquistou o poder na ilha, conservando até hoje o que pode ser considerado o último bastião da ideologia comunista no planeta.

Sua longeva permanência no cargo de presidente, depois transferida ao irmão, conservou o sistema na sua forma original. Embora produzindo uma sociedade pobre e com qualidade de vida questionável, conseguiu eliminar a miséria extrema e a desigualdade social de forma a permitir que seus conterrâneos tivessem uma vida modesta e sem possibilidades de crescimento, mas com necessidades básicas atendidas.

A ilha de Cuba, isolada do restante do planeta, sem acesso aos bens de consumo, que são inacessíveis à grande maioria de seus habitantes, tornou-se um museu do passado, simbolizada pelos carros antigos e os casarões da década de 50.

A história o retratará como o mais duradouro ditador do planeta, e um dos poucos a morrer de morte natural com o sistema implantado, pela sua ação revolucionária, em vigência no país.

Tem suas qualidades e defeitos divulgados de forma insistente pelos seus apoiadores e críticos, mas carregou de forma inquestionável seus princípios até o fim.

A meu ver, sua morte leva o último líder mundial que pregava o comunismo na sua essência, pois o sistema, embora tenha alguns méritos, se mostrou incapaz de desenvolver os talentos humanos na sua plenitude.

Poucos hoje pregam esta ideologia, pois está superada pelos avanços obtidos na liberdade vigente nos sistemas democráticos, que produziu uma boa qualidade de vida nos tempos que vivemos, embora não tendo alcançado a justiça social, de forma a oportunizar as pessoas de menor renda, o mesmo acesso à bens de consumo, como aqueles que tem poder aquisitivo para tanto.

Eliminar a miséria continua a ser o desafio permanente dos governos e sistemas que devem oferecer igualdade de oportunidades a todos. Educação e saúde estarão no topo das necessidades humanas e a ilha de Cuba, embora não sendo um exemplo de sociedade, conseguiu avanços importantes nestas duas áreas.

O comunismo pode ter morrido com Fidel, mas alguns de seus objetivos devem permanecer entre nós, buscando uma sociedade mais justa e a atenção devida às desigualdades que condenam milhões de pessoas a uma vida indigna.

*Rogério J. Lorenzetti, prefeito de Paranavaí