O direito de chorar

Um dos grandes alívios para alma, sem dúvida, é o choro. Chorar é arrancar dentro do peito, todo peso e dor causados pelas tristeza, depressão e amargura. É tirar aquela dor no peito que sufoca e oprime, aquela pressão na cabeça que irrita e perturba.
O ser humano não tem como fugir disso! E enquanto vivermos nessa existência material e terrena, a dor da tristeza estará sempre permeando nossas vidas. Já ao nascer, o choro marca sua presença na vida humana. O bebê e a criança pequena chora para se comunicar com as pessoas que a cercam. Ao chorar, ela provoca desconforto na mãe ou em quem a está cuidando para assim garantir suas necessidades e sobrevivência. O chorar é uma necessidade de suma importância, onde se acumula uma carga afetiva muito grande, podendo ser positiva ou negativa, dependendo da qualidade do cuidado. 
O adulto, claro, também chora, nas mais diversas situações. E uma das situações que leva a pessoa a chorar é, sem dúvida, a perda. A privação repentina e inesperada de alguma coisa ou de alguém que se ama. Seja a morte de uma pessoa amada, ou a perda de um ótimo emprego, o fim de um casamento, a notícia de estarmos com uma enfermidade grave, etc. Morte, separação, rejeição, doença são formas diferentes de sofrer uma perda. No estado de perda, o luto e a tristeza podem variar desde um pequeno incomodo a um grande desespero, onde a ansiedade, o medo e a raiva tomam conta do individuo, perdendo o interesse pelas atividades da vida, e ocupando a mente e alimentando ela com sentimentos tristes e pessimistas. Esse fato de forma alguma é anormal. Pelo contrário. É uma reação normal diante da dor, uma resposta do organismo para se ajustar diante desta situação. 
Quanto mais depressa ela sentir toda a dor, mais depressa se aliviará. Fugir, negar tomar medicamentos “tarja preta” por conta própria é retardar o processo da dor, além de prolongá-la. Percebi em vários casos que atendi onde a pessoa que não entra em contato com a dor, não chora e não expele seu sofrimento para fora, faz com que essa tristeza fique permanente, e com o tempo, pode virar uma depressão. Passam-se dias, meses e até anos, e a pessoa continua com um nó na garganta. Um indivíduo assim vai se incomodar com a tristeza dos outros, sem querer se tornando egoísta nesse aspecto, já que ela vai crer que sua dor é maior e pior que as demais que também sofrem, mesmo que pelas mesmas causas ou circunstâncias, além de se tornar desagradável, de se ter por perto quando se está triste.
Segurar e reprimir o choro de forma arbitrária e excessiva é um prato cheio para as chamadas doenças psicossomáticas (aquelas doenças que não são necessariamente de origem física, mas sim de origem emocional, na alma). Nada provoca tantas doenças quanto a depressão e a melancolia. Uma decisão nesse estado emocional poderá ter efeitos e resultados indesejáveis e até permanentes. A pessoa deve procurar “se alimentar” emocionalmente de coisas boas, tais como família e amigos, mas principalmente, essa pessoa deve ter total consciência de que a vida é como é, e não do jeito que queremos ou imaginamos. E devemos encará-la assim, de forma otimista, mas realista.
Por isso, amigo leitor, não tenha vergonha de chorar e liberar a dor da tristeza! O choro é terapêutico. Ele é necessário para completar o processo do sofrimento, seja da dor da perda ou da derrota. Se não houver choro, não há energia e espaço para outros relacionamentos, pois a dor e a tristeza ocuparão todo esse espaço! Talvez por isso que em Salmos (126), diz que “aquele que leva a semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo seus frutos”. A dor e o choro não são e nem serão eternos. Eles têm um período, um começo e um fim, como tudo na vida! Serão permanentes na vida de uma pessoa, se assim ela escolher e alimentar esse fantasma constantemente. Então, deixe suas lágrimas ao fim desta leitura, e prossiga sua vida, um dia de cada vez, ainda que chorando… Mas caminhando e enxugando as lágrimas. O caminho da bonança não é um destino, e sim uma jornada. 

Colaboração de Marcelo Fernando Rojas Rios
Psicólogo – CRP 08/15517
Bacharel em Psicologia pela Unicesumar de Maringá, e pós-graduando em terapia de casal e família na FTSA – Faculdade Teológica Sul Americana de Londrina, PR