O jogo jogado
Somente o determinado pela Justiça Eleitoral e na conformidade da Lei, poderão ocorrer modificações entre as candidaturas à presidência da República. Não aconteceu o que Lula e tantos petistas torciam: a renuncia de Dilma Roussef à sua tentativa, legitima, de concorrer novamente.
A atual presidente sequer admitiu fosse abordada sobre o tema e é de presumir-se que nem o próprio Lula teria encontrado uma brecha em suas palestras com Dilma para tocar no assunto, ainda que fosse aspiração que poderia chegar à uma quase unanimidade, Lula outra vez.
Com esperteza, o ex-chefe da Nação já foi dizendo que candidata no recinto da convenção do PT só Dilma. Rui Falcão, presidente do partido, havia se escalado para de início liquidar o imbróglio. Tudo foi antecipado, bem orquestrado e temos a pré-candidatura do PT na figura atual presidente da República.
Não poderia ser de outra forma, aliás, sob pena de ficar muito ruim tanto para Dilma como para Lula e o episódio levar o atual governo a, perdendo nas urnas, devolver à oposição o lugar já ocupado por Fernando Henrique. Há entraves, claro. Fala-se em problemas com Marina Silva. Não seria a primeira vez, nem será a última. Como Chacrinha, ela “veio para complicar”. Problema para a família Arraes, hoje na pessoa do ex-governador Eduardo Campos. Todos vão se acertar, acredita-se, pois a hora é de união.
Por ser pré, a campanha sequer começou. Muita água vai correr politicamente. Sintomático o silêncio em torno do PMDB, que poderia ser entendido como desprestígio do vice-presidente Michel Temer. Até pode ser. Mas os peemedebistas ainda vão decidir. Esse tem sido o papel e a posição do partido e ninguém acredita (salvo melhor juízo) possa sair do Senado o próximo vice de Dilma. Assim como o seu presidente, o alagoano Renan Calheiros. Ou outro assemelhado.
Se ainda há tempo, há tempo também para que se estenda a cobiça da oposição. Tanto Aécio como Campos receberiam o PMDB de braços abertos para um aperto consagrador até outubro. Claro, muito difícil. Lula está aí, vivo, querendo vencer de qualquer maneira, pois logo logo teremos 2018 e, aí, ninguém tira sua vez para um retorno tão esperado.
O ex-presidente vai cruzar os céus e pedir por Dilma. Não será a primeira vez. Mas, além da derradeira, pode ter muito de causa própria, pois o PT continua sem gente capaz de enfrentar os males que os governos em sequência deixam. Não nos precipitemos tanto, mas se tudo correr como esperado, na oposição ou no governo, vai faltar gente no PT para enfrentar possíveis 16 anos de mandonismo petista.
O jogo está jogado. Modificações pequenas podem ser feitas, mas a política, salvo o inesperado, costuma correr normalmente. E o que se deseja é que tudo corra bem, principalmente a Copa do Mundo, que, aliás, poderá ajudar e muito os candidatos e outros que possam a se aventurar, mais para aparecer, claro.
*Ayrton Baptista, jornalista.