O lado bom de tudo isso

*Adão Ribeiro

Parte da população ocupou as ruas do Brasil neste domingo. Uma manifestação legítima, usando como pano de fundo um monte de coisa que está por aí, não sendo necessário enumerá-las. Afinal, a rua é o lugar do povo, espaço comum de convivência. Esse foi o lado bom: mais gente descobrindo a rua, muito tempo depois dos professores, funcionários públicos e bancários em luta por direitos. Muito tempo também após passeata semelhante (fora Collor) em 1992. E ainda mais tempo depois dos retintos, desvalidos, menores abandonados, prostitutas, esses sem bandeira de luta ou sem razão para lutar. (sim, prostitutas também são cidadãs e as menos “qualificadas” atendem em praça pública).
Ver tanta gente na rua numa manhã de domingo (dia da macarronada com frango), me levou a algumas reflexões sobre a motivação de cada um. Rolou de tudo: os que querem fora Dilma (muitos sem saber que o substituto seria o vice Michel Temer), os que querem reforma política ou econômica, aqueles contra a corrupção (discurso óbvio, mas necessário) e até quem deseja ver o Brasil governado por um sujeito sisudo, trajando verde oliva (toc, toc, toc na escrivaninha de MDF).
O verde e o amarelo sempre nos emocionam por despertar patriotismo, ainda que muitas vezes beirando piegas. Não por acaso, foram as cores predominantes nos protestos. Aliás, chamou a atenção o número de adeptos da CBF (observação do colega Reinaldo Silva), aquela senhora anacrônica que controla com “honestidade” a paixão nacional. Mas, tudo bem, foi bonito.
Entendimento pacífico de que a passeata é direito inalienável, só não reconhecido pelo governo de exceção – golpe de 1964 – mas restabelecido pela força das ruas em jornadas memoráveis no final da década de 1970 e começo de 1980, é preciso colocar cada coisa em seu lugar.
Para tal, devemos olhar inicialmente para o nosso interior. Toda falta de ética ou ilegalidade para levar vantagem, é corrupção. Portanto, passar o país a limpo exige rever as pequenas corrupções de todo dia.
Dito isso, só espero que a passeata de cidadãos de bem e de compreensão acima da média inclua em seu rol os milhões de sem nada que encontram nas políticas afirmativas uma luz no fim do túnel. Esses milhões de marginais do processo, que não compareceram por não se sentirem representados, por falta de informação (e formação) ou até por não concordarem.
Que a passeata não seja um olhar para o próprio umbigo, mas uma vontade coletiva.
Que a divisão não seja por mérito – mas por amor.