O ódio e as redes sociais

REINALDO SILVA* – reinaldo@diariodonoroeste.com.br

Uma das primeiras coisas que faço ao acordar é acessar as redes sociais para dar uma olhada no que familiares, amigos e conhecidos estão compartilhando. O espaço virtual aproxima pessoas que estão distantes, ajuda a massificar informações e, cada vez mais, tem sido um ambiente para os usuários expressarem opiniões.
É sobre isto que quero fazer uma breve e despretensiosa reflexão: as opiniões nas redes sociais. Por definição, opinião significa maneira de pensar, de ver, de julgar; julgamento pessoal; parecer; pensamento. Ou seja, é a manifestação daquilo em que acreditamos, do que vivemos, de quem somos.
Obviamente, há discordâncias. Uns gostam de azul, outros preferem vermelho. Tem quem aprecie se reunir com amigos em um bar qualquer, outros optam pela diversão dentro de casa. Livros, músicas, filmes, programas de tevê, roupas, sapatos, animais domésticos. Para tudo existem opiniões. Ainda bem.
Mas não é sobre a infinidade de argumentos que pretendo discorrer nas próximas linhas. A pluralidade é saudável e faz com que a vida em sociedade seja mais divertida. Podemos aprender com quem pensa diferente. Mudamos de opinião, nos transformamos e vivemos num constante processo de reinvenção.
O que me causa repulsa é a prática do ódio disfarçado de opinião. As redes sociais se tornaram palanque para quem age assim. São pessoas intolerantes e extremistas que propagam discursos a favor da morte, da tortura, da agressão, da exclusão. E argumentam que estão meramente expressando opiniões.
A semana passada evidenciou uma situação icônica desse tipo de atitude. Com a notícia da morte do ator Domingos Montagner, não demorou para as pessoas exporem opiniões. As mais absurdas.
Chegaram ao ponto de dizer que a atriz Camila Pitanga teria provocado a morte do colega de profissão para abafar as acusações feitas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Afinal, ela é petista e estava preocupada com a imagem do bandido de estimação. Ela deveria ter morrido.
Percebem o nível de estupidez? Não houve respeito pela dor da atriz que acabara de perder alguém com quem convivia diariamente. Apenas um jato de argumentos esdrúxulos ligando a tragédia ao posicionamento político dela. Porque, para essas pessoas, há conspiração em tudo o que está relacionado à esquerda. E mais: petista bom é petista morto.
O extremismo também fica constantemente evidente quando espalham postagens sobre mulheres que não se dão o respeito porque usam roupas curtas, vão a festas e consomem bebidas alcoólicas. Se são agredidas, mereceram. Se são estupradas, estavam pedindo.
A violência contra a população negra é outra forma de manifestação corriqueira disfarçada de opinião. A lista de alvos dos intolerantes inclui, ainda, imigrantes, pobres, lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Poderia citar muitos alvos dos extremistas, mas acho que deu para ter uma ideia, certo?
Não existem limites para a crueldade. Não existe racionalidade. Apenas o ódio pintado de opinião. O desejo de que aqueles que pensam de maneira diferente sejam banidos. E isso está longe de ser considerado saudável. A sociedade está doente.
E o pior de tudo é que as bases para esse mal são as distorções dos textos religiosos, a defesa da moral e dos bons costumes, a ideia de que a cor da pele e a orientação sexual são decisivas para a formação de caráter.
As redes sociais são canais para a proliferação de todo esse ódio. Os que se intitulam cidadãos de bem compartilham, os mal-intencionados apoiam, os desavisados sustentam. E cada vez mais nos distanciamos daquilo que um certo líder espiritual ensinou há mais de 2.000 anos: que precisamos amar o próximo como amamos nós mesmos.

*Reinaldo Silva é repórter do Diário do Noroeste, jornalista e especialista em Comunicação, Educação e Artes.