O país reage, mas exige cautela
Dirceu Cardoso Gonçalves*
A indústria automobilística anuncia que produção nacional de veículos em janeiro aumentou 17,1% em relação ao mesmo mês do ano passado.
O governo prepara um pacote de bondades que além da já anunciada liberação das contas inativas do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) deverá ampliar a faixa de salário dos trabalhadores com direito a participar do programa Minha Cada Minha Vida, e alongar o prazo de financiamento de empréstimos àqueles que contraíram dividas e não puderam pagá-las no vencimento. Ainda deverão ser adotadas medidas de incentivo ao micro empresário e ao empreendedor individual.
Na verdade, o presidente Michel Temer e sua equipe econômica estão tentando oferecer alternativas à população de baixa renda nesse momento em que o desemprego ainda bate forte e supera os 12 milhões de trabalhadores.
Embora não digam, essas benesses também têm por objetivo contrabalançar as “maldades” que se diz necessárias, especialmente a reforma da Previdência Social, que ainda devera provocar muita discussão e desgaste, porque mexe no valor das aposentadorias e na idade com que o trabalhador poderá passar para a inatividade.
Tudo isso sem dizer, ainda, dos desgastes que o andamento da Operação Lava-Jato poderá trazer ao governo ao identificar seus membros e aliados envolvidos com as propinas sacadas dos contratos da Petrobrás e de outros negócios estatais.
Na fala do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, já passou aquela “sensação de que o Brasil era um trem desgovernado”. Contudo, o quadro é delicado e exige muito equilíbrio e negociação. O governo não deve, mesmo dispondo de maioria parlamentar capaz de aprovar as medidas amargas que propõe, fazê-las passar sem o aval da sociedade.
Se o fizer, caminharemos para um quadro de convulsão social cujo desfecho não se pode prever. Isso sem falar que, convulsionado, o pais não conseguirá reencontrar o caminho da estabilidade e do desenvolvimento. Não podemos ter medidas eleitoreiras como as que levaram o PT a bancarrota e nem duras a ponto da comunidade não absorvê-las.
Michel Temer e seus homens da economia já têm um conjunto de medidas, muitas delas impopulares, classificado como necessário para recolocar o país nos eixos, E preciso, no entanto, evitar a imposição de esforços que a sociedade não aceita e ate nem chega a entender como indispensáveis.
O governo que lhe caiu às mãos com o naufrágio do Partido dos Trabalhadores deve ter compromisso com mudanças e salvação nacional. Mas é fundamental dirimir entre o necessário e o possível. Tudo o que não é possível, mesmo sendo necessário, e inviável. Quando a dose do remédio é muito forte, em vez de curar, pode matar o doente…
*Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)