O poder da justiça

A vida em nossa sociedade se baseia em padrões com princípios e regras que funcionam para nossa existência diária, expressos em valores como o ato de fazer o bem, o dever, o direito e a obrigação. Todo cidadão, a princípio, tem um senso de justiça. Até mesmo uma criança possui dentro de sua cabeça, uma pequena noção do que é justo ou não.
Até seus oito anos de vida (em média), a criança ainda não é capaz de perceber muito bem os conflitos entre os desejos dela e o desejo dos outros. Ela ainda não diferencia muito bem o que quer, do que é justo. Para ela, só existe um lado: o seu próprio umbigo. Com o tempo, a criança (emocionalmente saudável) tende a evoluir moralmente para uma igualdade de reivindicações, pra depois desenvolver e absorver o conceito do mérito proporcional às boas ou más ações.
Achar um ponto de equilíbrio entre os desejos, as metas e os caprichos cultivados pelas pessoas é um desafio e tanto! Para evitar choques, guerras e confusões, surgem as regras que orientam e norteiam padrões de comportamento. Não precisaríamos das regras morais se o ser humano fosse mais sensato e levasse em consideração o ponto de vista e as necessidades de seu próximo. Faz sentido, pois é o nosso estado emocional que motiva muitas vezes nosso comportamento.
Com o objetivo de evitar mais confusão, podemos nos refugiar no amor, na justiça e no poder dentro das relações interpessoais. Se vivenciarmos o amor e praticarmos a justiça sem abuso de poder, é possível achar um caminho. O amor conduz ao altruísmo, a justiça orienta a dosagem a ser aplicada e o poder mantém o equilíbrio. E o ato de amar é a prática de repartir a justiça com poder. Justiça é dar a cada um o que lhe é devido. É compensar o erro e cobrar do ofensor. É o respeito pelas regras que definem os direitos e deveres dentro de uma sociedade.
Esperamos um dia ver a justiça! O culpado sendo punido. O preguiçoso sendo exigido. O desonesto sendo desmascarado. O manipulador sendo exposto e o bajulador sendo ridicularizado. É necessário que acreditemos que no mundo ainda possa haver justiça, pois esta é fundamental pra sobrevivência da sociedade como a conhecemos. Caso contrário, vira anarquia. Vira caos. Vira injustiça, desequilíbrio e desespero que pode nos levar a todo tipo de categorias de agressão.
Quando sofremos uma injustiça, entramos em um conflito interno. Não tem sentido estender a mão em amor e receber em troca um tapa na cara. O conflito criado pela injustiça nos mobiliza a buscar uma solução para o ocorrido. Nessa busca, flutuamos entre a culpa e a raiva, com a disposição de nos condenar ou condenar o outro. Toda vez que alguém é premiado pelo um mal que fez ou punido pelo bem que pratica, a confusão e a dor da sociedade cresce ainda mais, aumentando em cada cidadão o risco de depressão, insegurança e distúrbios psicológicos.
Apesar de vivermos em um mar de injustiças nas mais diversas áreas e setores no mundo (que dirá nosso país!), não podemos parar de nos mobilizarmos para buscar a justiça, ainda que tenhamos a consciência de que nunca a teremos por completo. Sei que parece contraditório. Não foi à toa que Eduardo Galeano, perguntado sobre qual seria a função da utopia (uma vez que ela é algo que nunca se realizará) tenha dito que sua função não é fazer com que as pessoas creiam que ela acontecerá de fato, mas sim fazer com que essas mesmas pessoas não deixem de caminhar para um alvo, uma meta, um objetivo, senão pra ser alcançado, pelo menos estar o mais próximo dela. Parece ser algo ingênuo e até piegas, porém necessário, útil e bom para nossa sociedade que vive num estado de espírito frio, materialista e egocêntrica ao extremo.
Acima de tudo, o poder do amor e da justiça só vai prevalecer no dia em que o egoísmo desaparecer de nosso coração. Até lá, é necessário viver em amor e praticar a justiça… sem abusar do poder! A começar em mim, em você e em cada um de nós.

Colaboração de Marcelo Fernando Rojas Rios