O racismo nosso de cada dia

Por Reinaldo Silva*

O Brasil é um país de pessoas racistas. O problema é estrutural e sistêmico. Está enraizado em nossa cultura escravagista e discriminatória. Crescemos habituados a marginalizar e invisibilizar a população negra. E achamos normal.
Nosso racismo se manifesta todos os dias: nos comentários estúpidos que fazemos quando estamos com amigos brancos e na maneira como tratamos os negros. E as piadas? Ah, as piadas! Essas – volta e meia – aparecem em rodas de conversas.
Um exemplo bem significativo do preconceito que carregamos conosco está na contrariedade à política de cotas raciais. Se me permitem emitir uma rápida opinião, a prática é correta, porque minimiza os danos causados à população negra ao longo de séculos. Mas dizem que as cotas são privilégios.
Pois digo que privilégio é andar pelas ruas sem ter olhares de medo e desconfiança sobre você simplesmente por causa da cor de sua pele. Privilégio é entrar em uma loja e não ser seguido por um segurança. Privilégio é ser branco e, por isso, não ser frequentemente confundido com bandidos.
É hipocrisia achar que o racismo não existe, quando, por exemplo, a maioria das cadeiras em universidades é ocupada por brancos. Em contrapartida, os negros formam a maior parcela da população carcerária.
Mesmo assim, ainda há quem diga que isso tudo é vitimismo. Que negros são discriminados porque querem. “Eles mesmos são racistas”, dizem. E quer saber de algo pior? Falam até em racismo reverso, ou seja, negros discriminando brancos.
Um caso recente que tomou conta das redes sociais nos últimos dias demonstra como o racismo está em todos os lugares. O jornalista e apresentador William Wacck foi filmado fazendo comentários racistas.
Depois que o episódio foi compartilhado um sem-número de vezes na internet, Waack disse que não se lembrava do episódio. E até acredito nele. Porque talvez esteja tão acostumado a proferir insultos que nem tenha dado importância àquele caso em especial.
E é exatamente o que fazemos. O comportamento racista se torna imperceptível para nós. Mas não para quem sofre com o preconceito. São eles, os negros, que sentem diariamente as consequências desse problema que teimamos em perpetuar sem pudores. Ao mesmo tempo, fingimos que está tudo bem e que o racismo não existe.
Assumi o compromisso de enfrentar, todos os dias, qualquer indício de preconceito racial que carrego comigo. Obviamente, isso não me torna menos racista, nem me exclui desse sistema que rechaça constantemente os negros. Mas estou tentando.
Cabe aqui explicar que não pretendo, em hipótese alguma, ocupar o espaço de manifestação de negros e negras que lutam, incessantemente, contra as opressões. Minha intenção é propor uma reflexão sobre o racismo.

*Reinaldo Silva é repórter do Diário do Noroeste, especialista em Comunicação, Educação e Artes.