O separatismo sulista

Dirceu Cardoso Gonçalves*
 
Eleitores de 900 cidades do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná serão incentivados a votar, no próximo sábado, dia 7, num plebiscito informal que pretende separar a aqueles três estados do restante do Brasil. É a segunda vez que isso acontece. No ano passado, 97,5% de 617.543 cidadãos que atenderam ao chamamento optaram pelo sim e agora a meta é obter a anuência de 1 milhão de pessoas, o que equivale a 5% do eleitorado da região. O movimento denominado.
"O Sul é meu país” existe há 20 anos e, por várias razões, não produz efeitos além do proselitismo. A principal dificuldade é sua ilegalidade, pois a Constituição, já no seu primeiro artigo define o país como a “união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal".
Por outro lado, contraria o princípio básico de unidade nacional cultivado pelo país desde a Independência e tido como um dos fatores da viabilidade brasileira. Essa unidade foi inicialmente defendida contra os separatistas que se insurgiram a Pedro I e em outros momentos ao sufocar movimentos de diversas motivações. Desde o Império – o primeiro e o segundo – a unidade do território foi prioridade e serviu para a fixação do idioma e cultura dos povos residentes que, com o passar do tempo e o avanço das comunicações, se disseminaram a todo o país, uns conhecendo os costumes dos outros. Tanto que rendeu ao Duque de Caxias, patrono do Exército, por seu trabalho, o reconheimento como herói da unidade nacional.
O separatismo que se prega no sul brasileiro é diferente daquele da Catalunia (Espanha) e de regiões do Oriente Médio. Lá são fatores culturais ou produtos de guerras e riscos à população. Aqui começou com idéias culturais, mas hoje a reclamação é econômica.
Os separatistas sulbrasileiros queixam que a região só recebe de volta 20% dos tributos que recolhe aos cofres federais e, por isso, quer se tornar independente. Há também, em São Paulo, no Rio de Janeiro e Minas Gerais quem reclame do mesmo problema, enquanto nos estados que recebem mais do que contribuem no bolo federal, reclama-se que os estados industrializados os escravizam impondo-lhes seus produtos, que chegariam a preços menores se fossem importados.
Acima de separar partes do território, o Brasil de hoje vive o grande desequilíbrio econômico e administrativo, que precisa ser contido antes que potencialize o caos absoluto. Em vez de sair da federação, o ideal será que todos os brasileiros se unam em busca de soluções. É preciso recuperar a credibilidade das instituições e buscar a mais equilibrada reforma econômica que elimine privilégios de toda ordem e devolva o orgulho à população.
Picar o território em pedaços não resolverá o problema. O novo país continuaria com as mesmas dificuldades e possibilidades menores de solução. Se durante todo o passado, com as imensas precariedades de comunicação, conseguimos viver integrados, agora será mais fácil com a velocidade da internet, rádio, jornal, TV e outros meios. O mais indicado é lutar por novo pacto federativo mais justo, equilibrado e, acima de tudo, honesto, onde todos contribuam e sejam beneficiados.  
 
*Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)