O Supremo e a sabatina espetaculosa

Dirceu Cardoso Gonçalves*

A indicação do advogado Luiz Edson Fachin para a vaga de ministro no Supremo Tribunal Federal acaba se transformando numa espetaculosa operação. A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado o sabatinou por quase 11 horas, mas sua aprovação ainda depende do voto favorável de 41 senadores.
A nomeação já nasceu com o problema do indicado ter atuado concomitantemente como advogado e procurador do Estado do Paraná, uma prática legalmente permitida à sua época no estado mas vedada no restante do país.
No fundo, o problema maior não é do indicado, mas de quem indica. Prova é que a sabatina de César Peluso, indicado em 2003, primeiro ano do governo de Lula, durou cinco horas e os três indicados de Dilma – Rosa Weber, Luiz Roberto Barroso e Dias Toffoli – foram inquiridos por 6, 7 e 8 horas, respectivamente.
Fachin paga o preço da falta de densidade política de sua indicadora num Senado que joga sucessivas quedas de braço com o Executivo pelo domínio do poder.
Os questionamentos surgidos logo após o anúncio do seu nome são, mais resultado da instabilidade política do momento do que da atividade do indicado. O processo espetaculoso é pra decorrência do ambiente conturbado onde está em curso, inclusive, a mudança das regras para a nomeação dos integrantes do Supremo e dos demais tribunais superiores.
Os senhores senadores – independente de sua posição política – precisam tomar os devidos cuidados para não banalizar o ato de escolha e nomeação dos integrantes das cortes que compõe as mais altas instâncias da justiça brasileira e, por dever de ofício, muitas vezes até substituem o Executivo e o Legislativo nas decisões de como governar.
Quem tiver o direito de indicar candidatos às vagas deve tomar cuidado para evitar a colocação de nomes que possam ter problemas ou, mesmo que não os tenham, suscitar dúvidas. Não podemos ter tribunais superiores que não mereçam a total confiança da sociedade e do povo.
Até porque, são o último bastião para a guarda e a preservação de nossos direitos e do cumprimento das leis. Não é bom para ninguém, principalmente para o próprio Poder Judiciário, nem a simples suposição de que ministros possam atuar política ou ideologicamente ou, ainda pior, em favorecimento ao governo que o indicou.
Nós acreditamos na independência daqueles que lá estão, e o povo também precisa ter segurança e motivos para acreditar…