O vendedor e o gargalo
Se não fosse o gargalo da logística, as vendas e a procura por vendedores seriam bem maiores.
Qualquer pessoa, em uma caminhada pelo comércio, observa o anúncio nas vitrines: “Precisa-se de vendedor”. Isso ocorre sempre que a demanda se torna maior do que a estrutura necessária para atendê-la.
Naquelas lojas estão empresários interessados em expandir seus negócios, mas que nem sempre conseguem compreender porque os vendedores são difíceis de encontrar. A questão é complexa, esbarra em inúmeras variáveis e circunstâncias. Sem dúvida, entre as razões principais, está a ausência de planejamento, resultado da ineficiência do setor público em todas as suas instâncias.
As previsões de crescimento econômico têm se mostrado peças de ficção, com a realidade teimando em ficar abaixo do otimismo oficial. O endividamento público é assustador, tirando dos governos a capacidade de investir. Controla-se a inflação aumentando juros, prejudicando o setor produtivo. E os investimentos estrangeiros diretos caíram quase 4% em relação a 2012, embora ainda estejam em níveis superiores aos da década passada.
A absoluta falta de comprometimento com os desafios do futuro faz com que sejamos escravos permanentes do gargalo, nos mais diversos setores da nossa economia.
Vejamos a área de logística. O gargalo passa a ter tal preponderância que toma quase o recipiente inteiro. Ele só não aparece nas fases iniciais do agronegócio, o plantio e a colheita dos grãos. Mas o setor já começa a padecer na fase seguinte, a do transporte. A infraestrutura ferroviária está um século atrás do exigido, tanto em relação à malha quanto à tecnologia. O transporte rodoviário sofre e faz as estradas sofrerem. O custo é alto, com as rodovias subdimensionadas e tráfego intenso. Nossos portos de maior capacidade são incapazes de escoar a produção na velocidade exigida. Dezenas de navios graneleiros aguardam até semanas ao largo antes da permissão para carregar.
Mas, o que existe em comum entre aquele empresário que está precisando de vendedor e o navio parado no mar? Tudo.
Sabemos que o agronegócio impulsiona outros setores, especialmente o comércio. Quanto mais ele encarece, menos impacto nas vendas do varejo.
Como os lojistas já têm dificuldade em encontrar profissionais para promover suas vendas, o efeito é minorado. Porém, se a nossa economia crescer de forma sólida e efetiva nos próximos dois ou três anos, o problema pode aumentar de forma exponencial.
Em uma sondagem realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio PR), na qual foram ouvidos empresários de diversos ramos em todo o Estado, os vendedores foram mencionados por 33,6% dos entrevistados. As regiões Oeste e Centro-Oeste são as que mais carecem de mão de obra na área de vendas, com 41% das respostas. Na sequência, estão o Sul (36%), Norte e Noroeste (34%), Sudoeste (30%), Litoral (28%), e Curitiba e Ponta Grossa (25%).
O papel relevante desempenhado pelo profissional de vendas não pode ser subestimado. A venda é um desafio para qualquer comerciante, ainda mais no mundo atual, com consumidores cada vez mais informados, exigentes e conscientes.
O empresário, vendedor por natureza, reflete sobre o futuro do comércio, novas técnicas a empregar para o sucesso o tipo de profissional apto a atender as novas exigências do mercado.
Para acompanhar esta evolução, o profissional de vendas precisa desenvolver competências gerais e específicas, assumir responsabilidades, adotar uma visão sistêmica e empreendedora, deixando de ser mero executor. O vendedor passa a ser corresponsável pelas ações de marketing, de finanças, de logística, bem como da cadeia de suprimentos, numa atuação participativa, criativa e inovadora dentro da organização.
Para responder às necessidades de formação de profissionais na área do comércio, há 67 anos o Senac Paraná cumpre a missão de educar para o trabalho em atividades do comércio de bens, serviços e turismo, e auxilia as empresas a qualificar seus funcionários.
Os cursos disponíveis vão da capacitação inicial a aperfeiçoamento e cursos técnicos de nível médio, parte deles gratuitos, ofertados pelo Programa Senac de Gratuidade (PSG). Essa é mais uma contrapartida do Sistema Fecomércio Sesc Senac PR à contribuição dos empresários do comércio.
A construção de novas escolas amplia e qualifica a atuação do Senac no Paraná. Nossos investimentos continuam com as outras dez obras em andamento e que vão somar-se as nossas 33 Unidades de Educação Profissional em funcionamento.
Tudo isso pode alcançar outra escala se a economia crescer a níveis mais consistentes, com menores custos. Haverá maior demanda a exigir mais profissionais, é verdade. Mas este desafio é o sonho de todo o empresário do comércio. Aí o anúncio será no plural: “Precisa-se de vendedores”.
O Senac estará à disposição para formá-los em todas as regiões do estado.
Basta que se eliminem os gargalos.
*Darci Piana, presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac PR