PAIS E PROFESSORES NÃO EDUCAM
Por Neube José Brigagão
Culturalmente nos foi imposta a afirmação de que pais e professores educam, que são educadores, que possuem a capacidade de assumir o eu do outro. E nós, sem a mínima reflexão ou questionamento, assumimos tal “verdade” e passamos a agir no sentido de realizar, heroicamente, uma inverdade.
Quando faço tal afirmação, noto que os pais de filhos do primeiro setênio (de 0 a 7 anos) e professores do chamado primário ficam incomodados ou até escandalizados. Afinal, são constantemente cobrados pela sociedade a exercer a função de educadores, de super-homens, de deuses.
Diante desta afirmativa sentem que perdem uma de suas funções. Os pais e professores de pré-adolescentes e de jovens, ao contrário, ficam aliviados. Já experimentaram, na prática, que não conseguem educar o eu do outro, seja filho ou aluno, que são impotentes diante das decisões do outro.
Quantos pais e professores dizem: “Fiz tudo o que sabia e ele continua na mesma”. “Cansei de falar e ele não me escuta.” “Ele ouve mas faz o que quer.” “Já castiguei, tirei a mesada, perdeu o recreio mas não se corrige.”
Por que os pais e professores não educam? Porque só existe a autoeducação. Afinal, educação é o desenvolvimento do eu e ele só pode ser desenvolvido pela individualidade. O eu é um pronome que só posso usar para mim mesmo, nunca para os outros. Só eu posso responder por ele.
Diante disso podemos pensar: lavo as minhas mãos, pois nada posso fazer no sentido de construir o meu filho/aluno.
Aqui reside outro engano. Diante dessa afirmativa nasce a grande missão dos pais, professores e de todos aqueles que se sentem chamados responsáveis pelo outro: mostrar caminhos.
Caminhos que poderão ou não ser trilhados por nossos filhos/alunos. O fato de eles poderem optar não nos livra da responsabilidade de mostrá-los.
Como mostrar caminhos? Como os seres humanos possuem duas orelhas, normalmente o que falamos entra por uma e sai pela outra. Mas o que veem, isto permanece.
Os nossos filhos/alunos não nos querem falando, mas sim dizendo. Falar é muito fácil, fazer é que é difícil. As palavras só permanecem se são procedidas e acompanhadas por ações que as tornam verdadeiras e confiáveis. A coerência na ação é a força de quem se propõe mostrar caminhos.
Mostrar caminhos implica buscar a verdade, a justiça e a misericórdia, sempre nesta ordem.
Tomemos o homem na forma tripartida: “sentir, pensar, querer”. Sentir é receber as informações que alimentarão o pensar. Portanto, para que o pensar seja sadio, o sentir deverá ser baseado na verdade (produto da empatia e não da simpatia ou da antipatia). O pensar, alimentado pela verdade, para continuar sadio, deverá julgar com justiça.
Somente com o sentir lúcido na verdade e com o julgamento baseado na justiça é que poderei, efetivamente, manifestar a misericórdia (amor – ato da vontade).
Desta forma podemos relacionar: Sentir com verdade; Pensar com justiça; e Querer com misericórdia (amor).
A tendência atual é de as pessoas manifestarem misericórdia de forma isolada, isto é, sem a mínima preocupação com a verdade e com a justiça. Baseados nisso podemos entender a seguinte colocação: “O mal é o amor fora do lugar” (Rudolf Steiner).
Mostrar caminhos implica:
Estabelecer, com absoluta clareza e convicção, quais os valores da vida que deverão nortear a conduta de nossos filhos/alunos.
Estabelecer objetivos a longo prazo sem nos deixar levar pelo imediatismo que caracteriza o momento cultural de nossa sociedade. Temos de olhar os nossos filhos/alunos com a ótica da existência, do nascimento à morte.
Impor, primeiro, a nós mesmos o que queremos propor aos nossos filhos/alunos.
Ser claros e objetivos em nossas afirmações.
Ser perseverantes em nossas decisões.
Ser presentes, admoestando, cobrando e exigindo de nossos filhos/alunos quando eles apresentam atitudes e comportamentos indesejáveis e destrutivos.
Ser elogiosos às atitudes positivas dos que estão confiados à nossa responsabilidade.
Ser comprometidos com a vida e sua qualidade.
Quanto à palavra, ela é como uma semente. Por que cuspi-la se podemos plantá-la?
Colaboração:
Elza Aparecida de Souza Carvalho Grade – Assistente Social da AGEPAZ