Palmeiras faz pressão na CBF contra arbitragem

SÃO PAULO – A diretoria do Palmeiras decidiu pedir a anulação da partida de sábado passado, contra o Internacional, mesmo avaliando internamente que a possibilidade de isso acontecer é remota.
O pedido será protocolado no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) e não há prazo para que seja avaliado pela procuradoria.
O árbitro Francisco Carlos Nascimento validou um gol de mão marcado pelo atacante Barcos que empataria a partida por 2 a 2, mas depois voltou atrás. Os palmeirenses alegam que houve interferência do delegado do jogo, Gerson Antônio Baluta, com informações de imagem da televisão, o que a Fifa veta.
Ao mesmo tempo, a diretoria enviou uma representação para a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) apontando diversos erros de arbitragem que o clube acredita ter sofrido nos últimos meses, com ênfase ao lance do jogo com o Internacional.
A representação é um ato administrativo, não se refere ao pedido de anulação. No entanto é tratada no clube como importante politicamente – foi feita depois de consulta a Marco Polo Del Nero, presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol) e vice-presidente da CBF.
A intenção com este documento é pressionar a CBF para não escalar árbitros que o clube não queira e, indiretamente, colocar também pressão nos árbitros que serão escalados a partir de agora.
Em 18º na tabela de classificação com 32 pontos, o Palmeiras joga nas últimas cinco rodadas para evitar o rebaixamento para a Série B.
ESTRATÉGIA – O presidente Arnaldo Tirone tomou frente no caso ao conversar com Del Nero e com o presidente da CBF, José Maria Marin. Ao lado de advogados do clube, ouviu membros da comissão técnica e jogadores para ajudar na elaboração da acusação que será levada ao STJD.
"O quarto árbitro estava a 53 metros de distância do lance. O juiz estava perto e validou o gol. O bandeirinha correu para o centro do gramado. A gente vai argumentar que o árbitro usou o artifício da televisão. O delegado influenciou. O quarto árbitro estava levantando a placa de substituição, não tinha como ver", disse Tirone.
Ontem à noite, ele apresentaria toda a tese para membros do Conselho em reunião em que também explicaria a ausência do clube em encontro da FPF semana passada.
A principal prova que o clube acredita ter é a declaração da repórter da TV Bandeirantes Taynah Espinoza, que participava da transmissão ao vivo. Segundo ela, o delegado Baluta pediu informações a jornalistas sobre se o gol foi ou não com a mão.
"Essa é nossa principal testemunha e, por enquanto, o principal ponto de estratégia para o caso", disse o diretor jurídico Piraci Oliveira.
A repórter pode ser chamada para depor no caso.
Procurada, a TV Bandeirantes disse que não vai se manifestar sobre o caso. (Colaborou Luiz Cosenzo, de São Paulo)

Súmula de árbitro surpreende palmeirenses
"Você viu o que o árbitro colocou na súmula?", perguntou Piraci Oliveira, diretor jurídico palmeirense.
Divulgada no site da CBF no início da noite de ontem, a súmula da vitória do Inter sobre o Palmeiras surpreendeu ao não relatar a confusão gerada pelo gol de Barcos. No campo ocorrências/observações, foi escrito que "nada houve de anormal" por Francisco Carlos Nascimento.
"Não sei ainda se isso é bom ou ruim. Vamos avaliar", disse Piraci Oliveira.
A súmula vai contra informações recebidas por membros do STJD e pela diretoria do Palmeiras durante o dia, que dizia que Nascimento colocaria no documento que foi avisado do toque de mão de Barcos pelo quarto árbitro Jean Pierre Gonçalves Lima.
Para conseguir a anulação, o departamento jurídico do Palmeiras precisa provar que houve "erro de direito" na decisão de Nascimento.
Um erro de direito é algo extracampo que influencia no resultado da partida – interferência externa na decisão do árbitro, como a utilização de imagens de TV, se aplicaria nesse caso.
Os casos em que é impossível conseguir a anulação são os chamados "erros de fato". Estes acontecem quando o juiz valida um gol irregular, em um impedimento, por exemplo, mas toma a decisão na hora, sem interferência que não seja do grupo de arbitragem – no Brasileiro formado por seis pessoas.
Caso o departamento jurídico palmeirense consiga convencer os auditores do STJD de que o delegado Gerson Baluta foi quem avisou ao quarto árbitro, seriam então dois casos que podem ser relacionados a erro de direito: o uso da imagem da TV e o aviso por parte do delegado, o que não é permitido.
Segundo o Regulamento Geral das Competições da CBF, o delegado tem funções burocráticas nas partidas, como zelar pela organização do gramado e do vestiário.