Palmeiras tenta impedir que venda de Gabriel Jesus repita a de Neymar

SÃO PAULO – Nos jornais espanhóis, em cujas páginas se reitera com frequência o interesse de Barcelona e Real Madrid por Gabriel Jesus, 19, o atacante brasileiro é frequentemente tratado como "nuevo Neymar".
Se a comparação técnica pode ser válida, o Palmeiras tem adotado estratégia para evitar que se repita o imbróglio que envolveu a transferência de Neymar do Santos para o time catalão, em 2013.
A Folha de S.Paulo apurou que o diretor de futebol do Palmeiras, Alexandre Mattos, está na Espanha para se encontrar com representantes dos clubes que já demonstraram interesse em Gabriel Jesus. A ideia é participar de todo o processo de negociação, conhecer os envolvidos e, principalmente, marcar posição do clube.
O plano é que o Palmeiras seja protagonista quando o atleta for negociado, recebendo corretamente os valores da transação, diferentemente do que reclamam o Santos e a parceira do clube nos direitos econômicos de Neymar, a empresa DIS, que acionaram a Justiça dizendo terem sido enganados pelo Barcelona e estafe do atleta.
Nessa estadia, Mattos deve receber representantes de clubes da Espanha (Barcelona, Real Madrid e um terceiro clube que já demonstrou interesse por Gabriel), da Alemanha (Bayern de Munique), da Inglaterra e da Itália (Internazionale de Milão).
O contrato atual vai até o fim de 2019, e o Palmeiras aposta que ele fica no clube ao menos até o fim de 2016.
DIFERENÇAS – O Santos conversou com o Barcelona, como o Palmeiras está fazendo. Mas anos depois soube que o estafe do atleta e o clube catalão negociavam há mais tempo, pelo menos dois anos antes de a venda ser concretizada.
Neymar foi negociado pelo Santos ao Barcelona em maio de 2013. O clube espanhol pagou oficialmente 17,1 milhões de euros.  O Santos teve direito a 9 milhões de euros, por ter 55% dos direitos econômicos do atleta. O restante pertencia às empresas DIS (40%) e Teisa (5%).
Neymar foi sendo fatiado para ficar mais tempo no Santos, algo semelhante ao que acontece com Gabriel Jesus –o palmeirense hoje pertence 30% ao Palmeiras, ele mesmo tem 25% e seus dois empresários, Cristiano Simões e Fábio Caran, que estão brigados, têm os 45% restantes dos direitos (22,5% cada).
O ex-santista recebia do time brasileiro, além do salário, participação em contratos de publicidade, o que chegou a elevar seu ganho a mais de R$ 1 milhão mensais  –o que não é nem próximo do que Gabriel recebe no Palmeiras, já que os contratos de publicidade do atleta, hoje, são dois apenas –Adidas e Samsung. Em maio de 2013, Neymar tinha 11 patrocinadores, entre banco, telefônica e empresa de eletroeletrônicos.
Chegando próximo do fim do contrato, em julho de 2014, quando Santos e investidores poderiam ficar sem receber nada, foi decidido negociá-lo com o Barcelona. O problema é que, mais de um ano depois, veio à tona que o Barcelona já havia pago ao jogador ao menos 40 milhões de euros, sem comunicar Santos e parceiros. Sentindo-se lesados, o clube e a DIS acionaram a Justiça espanhola, para tentar ressarcimento –na semana passada, o processo da DIS foi arquivado. A empresa vai recorrer.
Se Neymar pai –que, ao lado de advogados, cuida da carreira do filho– tinha relação turbulenta com o Santos, Palmeiras e Cristiano Simões, o empresário de Jesus, têm relação amistosa. Simões é advogado e não tem histórico como empresário, o que facilita que o Palmeiras tome a frente nas negociações. "Temos relação diferente do que acontece em qualquer outro lugar. É uma parceria com o Palmeiras", diz Simões, confirmando que todos os clubes que sondam Gabriel o fazem por meio do clube paulista.
Simões tinha envolvimento com o esporte por ter sido advogado de atletas e clubes em São Paulo. A atuação como empresário foi por acaso, quando um amigo viu Gabriel Jesus na várzea e o indicou.

Atacante se apoia em Ronaldo fora e dentro de campo
Veículos de imprensa internacionais, como o italiano "La Gazz etta dello Sport" e diversos diários espanhóis, têm procurado a assessoria de imprensa do Palmeiras em busca de uma palavra de Gabriel Jesus. O clube tem recusado os pedidos por entender que fazê-lo repetir respostas seria perda de tempo.
"Já está definido, a minha vontade é ficar no Palmeiras", disse o jogador ao SporTV recentemente.
A três dias de se apresentar à seleção olímpica, ele exibe tatuagem nova no braço: um garoto com um boné que tem a estampa da bandeira brasileira e fita a favela do Jardim Peri, onde Gabriel foi criado.
"Eu me identifiquei, o Neymar tem uma parecida na perna. Estava procurando para fazer e gostei", explica à Folha de S.Paulo. Ele se encontrará pela primeira vez com o jogador do Barça na segunda (18), ambos convocados para a Rio-2016.
Mas Gabriel busca referência em outro ex-Barça.
"[Neymar] é um craque, mas eu me espelho mais na carreira do Fenômeno, que é mais vitorioso. E me identifico mais com ele no estilo de jogo. Temos uma amizade legal, quando está no Brasil, ele gosta que eu o visite", explica.
O ex-jogador também ajuda nos negócios com contatos que ele tem com empresários e clubes internacionais. Segundo Simões, agente de Gabriel Jesus, Ronaldo não recebe para fazer essas pontes. A 9ine, agência de marketing da qual ele participava, chegou a sondar o estafe de Gabriel para representá-lo, mas o negócio não prosperou. Uma das contas da empresa foi a de Neymar.
Recentemente, o agente italiano Giovanni Branchini, que mediou a transferência de Ronaldo para a Inter de Milão, passou a participar das tratativas de Gabriel com estrangeiros.
Famoso, Gabriel diz que sente falta de "conversar até altas horas e bater uma bola" no Jardim Peri, na zona norte. Mas comemora um presente que se deu: uma Land Rover Evoque, cujo modelo 2016 é avaliado em mais de R$ 250 mil.