Papa diz que igreja não deve temer mudança
"Jesus não tem medo de novidades, por isso nos surpreende continuamente, levando por caminhos novos e imprevisíveis. Nos renova, sempre nos faz novos", disse Francisco. "Temos de reagir com coragem a quaisquer novos desafios em nosso caminho (…). Nesses dias, durante o sínodo, vimos o quão verdadeiro isso é".
Nesse tempo, afirmou o papa, "foi sentida a força do Espírito Santo que guia e renova sem cessar a Igreja".
O relatório final do sínodo, porém, mostrou uma cisão entre liberais e conservadores – o que foi visto como uma derrota parcial de Francisco, simpático a um discurso mais reformista.
Em uma versão preliminar do texto que a reunião emitiria a fieis, divulgada dia 13, havia acenos de aceitação a gays e a divorciados, como: "as pessoas homossexuais têm dons e qualidades que podem oferecer à comunidade cristã" e que é preciso acolhê-las "aceitando e valorizando sua orientação sexual".
A versão definitiva, entretanto, deixou de fora a maioria dos trechos progressistas. A passagem mais próxima do que se publicou inicialmente foi: "Homens e mulheres com tendência homossexuais devem ser acolhidos com respeito e delicadeza".
O relatório final também diz que não há possibilidade de as doutrinas atuais serem alteradas, e que pastores da Igreja Católica não devem sofrer pressão neste sentido. "É inaceitável (…) que órgãos internacionais condicionem sua ajuda a países pobres à introdução de leis que aceitem o ‘matrimônio’ de pessoas do mesmo sexo", diz o documento, em possível referência ao auxílio humanitário a países da África.
BEATIFICAÇÃO – A missa em que o papa comentou sobre o sínodo teve a finalidade de aprovar o pedido de beatificação de Paulo 6º, apresentado pelo bispo Luciano Monari.
Francisco pronunciou a fórmula em latim que declarou beato o pontífice, que ficou à frente da Santa Sé entre 1963 e 1978.
Francisco disse que "a partir de agora o papa Paulo 6º será chamado beato e sua festa se realizará, nos lugares e segundo as regras estabelecidas, em 26 de setembro". Esta é a data de nascimento de Paulo 6º.
O milagre atribuído a ele e que o permitiu ser beatificado é a cura de um feto diagnosticado com graves problemas cerebrais no início da década de 1990 na Califórnia, nos EUA. A mãe se recusou a abortar e rezou para o papa salvar a criança, que nasceu saudável.
Agora, os defensores de tornar Paulo 6º um santo precisam apresentar um segundo milagre que, se o Vaticano reconhecer, completará o processo de santificação.
Reformista, Paulo 6º criou reunião de bispos
Beatificado logo após o fim de uma reunião da igreja em que se discutiram mudanças, o italiano Paulo 6º, cujo nome era Giovanni Montini, ficou conhecido pelas reformas que fez durante seu papado, entre 1963 e 1978.
Foi o agora beato que instituiu o Sínodo dos Bispos, para manter discussões entre conservadoras e progressistas da igreja, após ter encerrado o Concílio Vaticano 2º – cujo objetivo era modernizar a instituição, entre 1962 e 1965.
"Estamos fazendo todos os nossos esforços para adaptar nossas maneiras e métodos (…) a uma sociedade em constante mudança", diz uma carta apostólica que Paulo 6º divulgou em 1965.
O pontífice inaugurou muitas práticas, como parar de usar a tiara papal, em forma de colmeia com pedras preciosas cravejadas. "Foi para mostrar que a autoridade do papa não está ligada a nenhum poder temporal", disse o cardeal Giovanni Battista Re. A joia foi vendida e o dinheiro dado aos pobres.
No campo dos costumes, Paulo 6º seguiu linha conservadora. Assinou importantes encíclicas como a "Humanae Vitae", documento que rejeita o uso da maior parte dos métodos contraceptivos.
No altar da missa de beatificação, foi exposta a camiseta ensanguentada usada por Paulo 6º quando, em 1970, um pintor boliviano o apunhalou duas vezes. Ele se salvou, e só morreria oito anos depois, após ter um infarto.