PAPA FRANCISCO

Quarta-feira, 4 de março de 2015
[…] pensemos sobre a problemática condição em que vivem os idosos de hoje.
Graças aos progressos da medicina, as pessoas estão vivendo mais tempo: mas a sociedade não se abriu à vida! O número de anciãos se multiplicou, mas as nossas sociedades não se organizaram o suficiente para dar espaço a eles, com o justo respeito e concreta consideração pela sua fragilidade e dignidade. Enquanto somos jovens, em geral, ignoramos a velhice, como se fosse uma doença, uma doença da qual queremos ficar longe. Depois, quando envelhecemos, especialmente se somos pobres, se somos doentes ou sozinhos, experimentamos as falhas de uma sociedade programada sobre a eficiência que, consequentemente, desconsidera os idosos. Mas os idosos são uma riqueza, não podem ser ignorados!
A atenção aos idosos faz a diferença numa civilização. Numa civilização presta-se atenção ao idoso? Tem lugar para o idoso? Esta civilização irá em frente, pois sabe respeitar a sabedoria, a experiência dos idosos. Numa civilização em que não há espaço para os idosos ou são descartados porque criam problemas, tal sociedade traz consigo o vírus da morte.
No Ocidente, os estudiosos falam do século atual como o século do envelhecimento: os filhos diminuem, os idosos aumentam. Este desequilíbrio nos questiona, aliás, é um grande desafio para a sociedade contemporânea. E, no entanto, uma cultura do lucro insiste em fazer com que os idosos pareçam um peso, um fardo. Esta cultura pensa que os idosos não só não produzem, mas chegam a ser um peso: em síntese, qual é o resultado de um pensamento como este? Eles devem ser descartados. É feio ver os idosos descartados, é algo desagradável, é pecado! Não se ousa dizer isso abertamente, mas se faz concretamente! É horrível este acostumar-se à cultura do descartável. E nós estamos acostumados a descartar as pessoas. Queremos remover o nosso grande medo da debilidade e da fraqueza; mas agindo deste modo, aumentamos nos idosos a angústia de serem mal suportados e até abandonados.
Já no meu ministério em Buenos Aires eu sentia pessoalmente esta realidade com os seus problemas: os idosos são abandonados, e não apenas na pobreza material. São abandonados na incapacidade egoísta de aceitar os seus limites, que são um espelho dos nossos limites, nas numerosas dificuldades que hoje devem superar para sobreviver numa civilização que não permite a eles participar, expressar-se, expressar a sua opinião, de ser um ponto de referência segundo o modelo consumista de que só os jovens podem ser úteis e devem aproveitar as coisas. Ao contrário, estes idosos deveriam ser para toda a sociedade a reserva sapiencial do nosso povo. Os anciãos são a reserva sapiencial do nosso povo! Com quanta facilidade se adormece a consciência quando não há amor. E acontece assim. Eu me lembro quando visitava as casas de repouso, eu falava com cada um e, muitas vezes, ouvia isto: Como está a senhora? E os seus filhos? – Bem! Bem!- Quantos tem? – Muitos! – E eles vêm visitá-la? – Sim, sempre. Eles vêm, vêm! – E quando vieram a última vez? Recordo que uma senhora idosa me disse: Olha, eles vieram no Natal! E nós estávamos em agosto! Oito meses sem ter sido visitada pelos filhos, oito meses abandonada! Isto se chama pecado mortal. Entendem? Quando eu era criança, um dia a minha avó contou uma história de um avô idoso que se sujava quando comia, porque não conseguia colocar a colher de sopa na boca. E o filho, ou seja, o pai de família, decidiu tirar o vovô da mesa da família e mandou fazer para ele uma mesinha à parte, na cozinha, onde não se via, pra ele ali pudesse comer sozinho. Assim, não causaria vergonha quando os amigos viessem almoçar ou jantar. Poucos dias depois, quando voltava do trabalho para casa encontrou o seu filho mais pequeno brincando com um pedaço de madeira, um martelo e alguns pregos; fazia alguma coisa ali. E o pai perguntou ao filho: O que você está fazendo? – Faço uma mesinha, papai. – Uma mesinha, por quê? – Para que esteja pronta quando você ficar velho, assim você vai comer nela! As crianças têm mais consciência do que nós!
Na tradição da Igreja existe uma bagagem de sabedoria que sempre sustentou uma cultura de proximidade com os anciãos, uma disposição ao acompanhamento carinhoso e solidário na parte final da vida. Esta tradição está enraizada na Sagrada Escritura, como testemunham, por exemplo, estas expressões contidas no Livro do Eclesiástico: “Não desprezes os ensinamentos dos idosos, pois também eles aprenderam com os seus pais”.
“Deles aprenderás o discernimento e o modo de fazer as coisas no momento certo”(Eclo 8,11-12).
A Igreja não pode e não aceita conformar-se com uma mentalidade de sofrimento, e muito menos de indiferença e de desprezo, com relação aos idosos. Devemos despertaro sentido comunitário de gratidão, de apreço e de hospitalidade, que levem o idoso a sentir-se parte viva da sua comunidade.
Os idosos são homens e mulheres, pais e mães que percorrem antes de nós o nossopróprio caminho, estiveram na nossa mesma casa, combateram a nossa mesma luta diária por uma vida digna. São homens e mulheres dos quais recebemos muito. O idoso não é                                                                                                                              um desligado da realidade. O idoso somos nós: daqui a pouco, ou muito que seja, também nós, inevitavelmente, seremos idosos, embora não pensemos nisto. E se não aprendermos a tratar bem os anciãos, também nós seremos tratados com desprezo.
Todos nós idosos somos um pouco frágeis. No entanto, alguns são particularmente fracos, vivem muito sozinhos e prostrados pela doença. Outros dependem dos cuidados indispensáveis e da atenção dos outros. Não assumiremos nosso compromisso com eles, abandonando os idosos ao seu destino? Uma sociedade sem proximidade, onde a gratuidade e o afeto sem retribuição – inclusive entre os estranhos – começam a desaparecer, é uma sociedade perversa. A Igreja, fiel à Palavra de Deus, não pode tolerar estes erros. Uma comunidade cristã em que a proximidade e a gratuidade deixassem de ser consideradas indispensáveis perderia juntamente com elas também a sua alma. Onde não há honra pelos idosos, não há futuro para os jovens.
Fonte:
http://cnbbs2.org.br/site/wp-content/uploads/2015/08/1-Textos-do-Papa-Francisco-Novena-2015.pdf