Papa reúne líderes do Oriente Médio para orações pela paz
O evento aconteceu nos jardins do Vaticano, local considerado neutro por ser ao ar livre e ausente de símbolos religiosos.
A cerimônia foi dividida em três atos. Em cada um deles, foram feitas orações -judaicas, cristãs e muçulmanas- de agradecimento pela criação, de perdão pelos pecados cometidos e de invocação à paz.
Entretanto, antes do encontro, o Vaticano minimizou qualquer expectativa de que a reunião tivesse efeitos políticos imediatos.
"Ninguém é tão presunçoso a ponto de achar que a paz vai acontecer na segunda-feira [hoje]", disse o padre Pierbattista Pizzaballa, um dos organizadores do evento.
"A intenção é reabrir uma estrada que está fechada há algum tempo", disse, acrescentando que o papa não iria se envolver em detalhes de questões como fronteiras ou assentamentos.
Ainda assim, em sua fala, Francisco fez um forte apelo a Abbas e Peres, pedindo pelo fim "dos muros da inimizades" e pela retomada "do diálogo". "Para fazer a paz é preciso coragem, muito mais do que para fazer a guerra. É preciso coragem para dizer sim ao encontro e não aos enfrentamentos; sim ao diálogo e não à violência; sim às negociações e não às hostilidades".
Depois, Peres tomou a palavra e disse que, ainda que a paz não possa ser alcançada facilmente, é preciso lutar por ela "com todas as forças", aceitando sacrifícios ou compromissos.
"Todos precisamos da paz. Da paz entre iguais".
Em Israel, o cargo de Peres é cerimonial – o chefe de governo é o premiê Binyamin Netanyahu, visto com desconfiança pelos palestinos. Ele não foi ao evento.
Abbas, por sua vez, disse que a reconciliação, a paz "justa", "uma vida digna" e a "liberdade" também são objetivos dos palestinos. No discurso mais político dos três líderes, advogou pela criação de um Estado palestino soberano e independente.
No fim da cerimônia, os líderes plantaram um pé de oliveira, árvore símbolo da paz. Eles também tiveram um encontro a portas fechadas.
ESFORÇO DIPLOMÁTICO – O evento foi um desdobramento da visita do papa à Terra Santa entre os dias 24 e 26 de maio, em um contexto de interrupção, desde abril, dos diálogos de paz mediados pelos Estados Unidos entre israelenses e palestinos.
Na ocasião, Francisco rezou no muro que separa a Cisjordânia de Israel e se referiu, durante uma missa ao lado da igreja da Natividade, ao "Estado Palestino", entidade que Israel não reconhece.
Durante a viagem, o papa também deitou uma coroa de flores no túmulo de Theodor Herzl (1860-1904), o fundador do sionismo, em um homenagem inédita interpretada como uma reparação à recusa do papa Pio 10º (1835-1914) de apoiar o movimento pela criação de um Estado judeu em 1904.
Texto lido trata Jerusalém
como uma cidade feliz
A cerimônia que reuniu o papa e os líderes de Israel e da Autoridade Palestina no Vaticano foi repleta de significados.
A começar pela escolha dos textos lidos. Um deles, do Livro de Isaías, no Antigo Testamento, trata da criação de Jerusalém como um local de paz.
Na realidade, a cidade é disputada por israelenses e palestinos como capital de seus Estados.
"Estou prestes a criar Jerusalém como alegria, e seu povo como prazer. Aproveitarei Jerusalém e meu povo; não mais o som do choro será ouvido nela, ou o grito de desgraça", diz trecho lido.
A cerimônia teve três partes, separadas por apresentações musicais ao vivo e seguidas por uma conclusão, em que as comunidades religiosas presentes se expressaram na ordem cronológica de sua aparição: primeiro o judaísmo, seguido pelo cristianismo e então o islamismo.
Em cada apresentação, foram retomados os mesmos temas: agradecimento pela criação, perdão pelos pecados e invocação à paz.
As preces da comunidade judaica, em hebraico, foram as mais longas e tiveram a participação de 20 representantes.
Pelo cristianismo, falaram um representante da comunidade ortodoxa e o cardeal Peter Turkson, de Gana, que é presidente do Pontifício Conselho de Justiça e Paz.
Depois, em árabe, foi proferida pelos cristãos a oração de São Francisco de Assis, também conhecida como oração pela paz.
O santo, famoso por seus ideais de paz e defesa dos mais pobres, inspirou o nome do pontífice.
Uma mulher foi a primeira a representar os muçulmanos nas preces. Em árabe, foram feitas três orações.
Por fim, discursaram o papa e os dois presidentes.