Para Vaticano ataque terrorista é “dupla violência” contra pessoas e imprensa
O padre Ciro Benedettini, vice-diretor do gabinete de imprensa do Vaticano, disse a jornalistas que a liberdade de imprensa é tão importante quanto a liberdade religiosa.
Praticado por três homens encapuzados e fortemente armados, o ataque causou a morte de pelo menos 12 pessoas, a maioria funcionários do jornal francês que estavam na redação, entre eles o diretor da publicação, Stéphane Charbonnier, de 47 anos, e Georges Wolinski, de 70 anos, considerado um dos maiores cartunistas do mundo.
Charges do profeta Maomé publicadas pelo jornal já haviam causado protestos entre a comunidade muçulmana no passado. Segundo testemunhas, os agressores gritaram “vingamos o profeta”.
A Conferência Episcopal da França também condenou o ataque, considerando-o “injustificável” e ressaltando o “horror” causado. Outras representações religiosas, como a Liga Árabe e a Universidade de Al Azhar, a segunda mais antiga do mundo e principal autoridade do Islã sunita, também condenaram o atentado terrorista.
GRITARAM VINGANÇA – Os homens encapuzados que atacaram ontem a redação do jornal satírico francês Charlie Hebdo, em Paris, gritaram “vingamos o profeta”, segundo testemunhas citadas por uma fonte policial.
Num vídeo do ataque, filmado por um dos ocupantes do edifício que se refugiou num telhado e divulgou no site da televisão pública France Télévisions, ouve-se uma voz de homem gritar “Allahu Akbar” (Alá é grande) entre o som de vários disparos.
O presidente francês, François Hollande, foi para o local e denunciou um “ataque terrorista” de “extrema barbárie”.
O jornal Charlie Hebdo tornou-se conhecido em 2006 quando decidiu republicar charges do profeta Maomé, inicialmente publicados no diário dinamarquês Jyllands-Posten, o que provocou forte polêmica em vários países muçulmanos.
Em 2011, a sede do semanário foi destruída num incêndio de origem criminosa depois da publicação de um número especial sobre a vitória do partido islamita Ennahda na Tunísia, no qual o profeta Maomé era o “redator principal”.
Policial morto em ataque estava rotegendo diretor de jornal
Um dos dois policiais mortos no ataque à sede do jornal francês “Charlie Hebdo” estava fazendo guarda para o diretor editorial da publicação, Stéphane Charbonnier, conhecido como Charb, que também foi assassinado.
Luc Poignant, colega de trabalho do policial, diz que o agente não teve tempo de reagir. “Em casos assim, se mata primeiro aquele que está ali na função de proteger”, disse ele ao jornal francês “Le Figaro”. “Não existe segurança absoluta. Isso é um ato de terrorismo.”
Profissionais do “Charlie Hebdo” estavam recebendo proteção porque recentemente o jornal havia recebido ameaças por e-mail e telefone. . Em 2011, a redação foi alvo de um incêndio criminoso após ter publicado uma série de caricaturas sobre Maomé.
Atiradores disseram ser da Al Qaeda
Testemunhas do ataque ao jornal francês "Charlie Hebdo" afirmam que os atiradores se identificaram como membros do braço da rede terrorista Al Qaeda no Iêmen. As autoridades francesas, no entanto, ainda não confirmaram a autoria do atentado.
Cédric Le Béchec, 33, que presenciou o ataque, disse ao jornal britânico "Telegraph" que, antes de começar a atirar, os terroristas abordaram um homem na rua e disseram: "Diga à imprensa que essa é a Al Qaeda no Iêmen".
De acordo com Béchec, os atiradores chegaram em um carro preto e pararam no meio da rua. Eles vestiam uma roupa preta de estilo militar. Ao menos três terroristas invadiram a redação do jornal e atiraram contra os profissionais.
Corinne Rey, conhecida como Coco, cartunista do "Charlie Hebdo", disse a um jornal francês que encontrou os terroristas no momento em que eles entravam no edifício do jornal. Eles disseram "nós somos da Al Qaeda".
Coco conta que estava indo pegar a filha em uma creche. Ao chegar à frente do prédio, dois homens armados a ameaçaram. "Eles queriam subir. Eu digitei o código [de entrada]. Eles atiraram em Wolinski e no Cabu. Durou cinco minutos", contou ela, citando nomes de dois dos colegas cartunistas mortos no ataque.
Há relatos de que os atiradores chamavam as vítimas pelo nome, o que sugere que o ataque foi planejado com antecedência.
De acordo com a polícia francesa, após fazer os disparos, os atiradores fugiram em um carro Citroen preto dirigido por um quarto elemento do grupo.
Eles foram até a região da estação de Porte de Pantin, no nordeste da cidade, onde abandonaram o veículo e sequestraram um outro, expulsando o motorista na rua.