Paralelepípedos
Ao ler jornais durante esta semana me deparei com esta "pérola" dita por um dos defensores envolvidos na Operação Lava Jato da PF;
"Pode pegar qualquer empreiteirinha e prefeitura do interior do país. Se não fizer acerto não coloca um paralelepípedo no chão".
A frase dita pelo advogado é de um cinismo poucas vezes visto em declarações sobre corrupção no Brasil. Ao generalizar a todos os gestores públicos do Brasil, ele colocou em suspeição milhares de prefeitos, servidores públicos e empresários, muitos dos quais cumprem, de forma ética e correta, as incumbências a eles confiadas, seja por eleições, concursos públicos ou licitações, após promover concorrências e firmar contratos para execução de obras.
Se fosse verdade estaríamos todos envolvidos, seja por ação ou omissão, incluindo entidades de fiscalização e repressão, cuja finalidade é cumprir e fazer cumprir as leis nacionais que regem o assunto.
Felizmente, acredito eu, a maioria da população é honesta, incluindo aí prefeitos e gestores, públicos e privados, que lutam, com muitas dificuldades para fazer acontecer obras públicas neste país de imensa burocracia.
Hoje, sistemas públicos são interligados praticamente online com o Tribunal de Contas. Medidas de transparência são praticadas pela quase totalidade dos entes federados, permitindo que qualquer pessoa tenha acesso a informações sobre uso de recursos públicos. Listas de preços para obras estão disponíveis na Internet, inclusive algumas servem de parâmetros obrigatórios para editais de licitações.
Todo reajuste de preços tem que ser analisado de forma técnica com o devido processo administrativo cumprido dentro dos ritos legais, com farta documentação justificativa de valores e necessidades.
Havendo desvios de conduta, como parece ser o caso em pauta, os rigores da lei são aplicados, após julgamentos onde o acusado tem amplas possibilidades de defesa. Agora usar este argumento para justificar a conduta de cliente investigado é cometer uma grande injustiça com a sociedade brasileira, comparável a dizer que todos os cidadãos, se tivessem oportunidade, praticariam formas diversas de corrupção em seu benefício, o que é uma inverdade.
A frase popular "não me meça com sua régua" se encaixa como uma luva à resposta a ser dada pelos gestores públicos que, como eu, encaram política como missão de servir a sociedade, e não como meio de vida.
Defender nossos valores democráticos e a imensa maioria dos responsáveis pelos recursos públicos se faz necessário neste momento difícil por que passa o país. Espero que ele saia mais forte desta situação e que o seu desenlace desestimule o mau uso dos mesmos.