Paraná aposta na qualidade da carne bovina
“Somando toda a nossa produção de carne bovina, somos capazes de suprir apenas 80% do mercado. O restante é abastecido por São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que ganham espaço em função dos preços mais competitivos”, explica o assessor do departamento técnico econômico da Federação de Agricultura do Estado do Paraná, Celso F. Dias Doliveira.
No ano passado, a classe produtiva atendeu grande parte do consumo interno, com quase 280 mil toneladas de carne. Há dois anos, as vendas externas ainda eram realidade, mas com o encerramento das atividades de uma grande indústria frigorífica, o estado deixou de competir nas exportações do produto.
Para reverter a situação, produtores em diversos municípios estão se apoiando em torno de cooperativas para produzir uma carne de melhor qualidade e, dessa forma, atingir nichos de maior valor agregado, movimento que pode despertar o interesse de outros frigoríficos habilitados à exportar.
Já são sete cooperativas do gênero, que contam com mais de 20 associados cada uma e representam 5% dos abates. Os próprios pecuaristas buscam parceiros no varejo, em grandes redes de hotéis, restaurantes ou churrascarias, e conseguem uma boa remuneração. “O lucro varia entre 10 e 20% sobre o valor atual da arroba do boi gordo. Outra vantagem é que passam a entender melhor como funciona o negócio da porteira para fora”, conta o assessor da Faep.
Os interessados em atingir mercados diferenciados precisam investir em tecnologias que garantam uma produção dentro de padrões preestabelecidos pelos clientes. O melhoramento genético do gado é a principal ferramenta para produzir carne de melhor sabor e maciez, bem como uma carcaça mais precoce e com o acabamento de gordura apropriado.
“Há uma preocupação crescente em investir em touros melhoradores e promover cruzamentos industriais. Reflexo disso é que a taxa de desfrute no Paraná alcança 29%, bem acima na média nacional, de 22%.
Para conseguir animais com tais características, os criadores participam de leilões e eventos dentro e fora do Paraná. Em Rancharia, no interior de São Paulo, o empresário e pecuarista Jovelino Carvalho Mineiro Filho, um dos principais fornecedores de touros das raças Nelore e Brahman do Brasil, diz que é crescente a participação de pecuaristas paranaenses em seu remate anual de touros.
“Cada vez mais pecuaristas descobrem as vantagens proporcionadas por reprodutores com genética provada, essencial para que o produtor receba mais pela carne produzida. Este ano, nosso leilão será em 23 de setembro e, desde o mês passado, já recebemos consultas de vários criadores do Estado interessados em comprar reprodutores”, afirma.
“Raio-x” da pecuária
Segundo a Faep, o Paraná detém a quinta maior economia do Brasil, respondendo por 30% do PIB nacional. Com uma população de aproximadamente 10,5 milhões e renda per capta R$ 21,6 mil em 2010, ultrapassa a média nacional: R$ 19.7 mil. Somente o agronegócio, representa 30% do PIB estadual.
Das 371.051 propriedades rurais em todo o território, quase 212 mil trabalham com bovinos. Juntas, reúnem um rebanho de quase 10 milhões de cabeças, distribuídas principalmente na região noroeste. São aproximadamente 2.160.877 animais.
O estado é livre de febre aftosa com vacinação, peste suína clássica e influenza aviária. Sua situação sanitária equivale a de outros estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, com exceção de Santa Catarina, que é livre de aftosa sem vacinação. “Neste ano, a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Paraná (ADAPAR) iniciará atividades para dinamizar as ações de proteção no Estado”, revela o assessor da Faep.
Desde que ocorreram focos de febre aftosa, em 2005, não conseguiu recuperar os volumes de carne bovina negociadas no exterior. Em 2008, reconquistou o status de área livre da enfermidade, mas somente em 2009 retornou as exportações de carne, cujo seu produto já esteve presente em 20 países. Hoje, sofre com a falta de frigoríficos habilitados para exportar em atividade. Existem 22 plantas frigoríficas homologadas pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF), três paralisadas, e mais 50 com Selo de Inspeção Estadual (SIP), com capacidade abater de 60 a 1.050 cabeças/dia.
Em função do alto valor das terras, observa-se um aumento significativo nas taxas de lotação de pastagem e um acréscimo de quilos de carne produzidas por hectare nos últimos anos.
“O preço alto e a competição com culturas mais rentáveis têm pressionado os pecuaristas a adotar sistemas de produção e tecnologias que garantam rentabilidade ao negócio. A integração lavoura-pecuária também vem crescendo bastante. Muitos agricultores estão diversificando com a produção de carne, inclusive, conseguindo acesso a linhas de financiamento com projetos de agricultura de baixo carbono – Projeto ABC estimulado pelo Ministério da Agricultura”, conclui Doliveira.