Paranavaí teve 20 assassinatos no ano passado
Paranavaí teve 20 pessoas assassinadas no ano passado conforme aponta levantamento de 2018 apresentado pela Polícia Civil a pedido do Diário do Noroeste. Houve crescimento significativo desses crimes em relação a 2017, quando nove pessoas acabaram vítimas da violência.
O delegado Luiz Carlos Mânica, chefe da 8ª Subdivisão Policial de Paranavaí, adverte que 2017 foi um ano atípico, isto é, ficou abaixo da média histórica. Em 2013, por exemplo, a cidade contabilizou 15 mortes, número que subiu no ano seguinte, chegando a 16, saltando para 17 em 2015 e caindo para 12 pessoas mortas em 2016.
Os índices de 2018 também foram “turbinados” por algumas particularidades, como o assassinato de dois presos na Cadeia Pública de Paranavaí. Os corpos foram encontrados pendurados na grade da cela, uma tentativa grosseira de simulação de suicídio.
Um dos detentos assumiu a autoria dos crimes, porém, diante do cenário, todos os dez que dividiam o espaço na cela acabaram denunciados, informa o delegado-chefe. O crime aconteceu na noite de 24 de agosto. A motivação pode ser desentendimento ou até mesmo acerto de contas por disputa entre grupos rivais.
A cadeia vive há vários anos o problema da superlotação. Comumente, mais de 200 detentos dividem o espaço projetado para 96 (número de camas).
Ainda no total de mortes do ano passado estão o latrocínio (roubo com resultado morte) de um policial militar da reserva (aposentado) que trabalhava como segurança em um supermercado na Vila Operária. Ele foi atingido por um tiro e dois adolescentes acabaram presos pela autoria durante tentativa desastrada de assalto.
Também nesta lista, um feminicídio no mês de setembro. O caso foi registrado no Jardim Morumbi e repercutiu muito na cidade. A mulher, 45 anos, foi esfaqueada pelo homem com quem mantinha um relacionamento há cinco anos. Ela morreu dias após a violência. O suspeito está foragido desde então.
MOTIVOS – A maioria dos demais assassinatos está ligada a problemas envolvendo disputas entre grupos rivais, analisa Mânica. O delegado cita exemplos de pessoas mortas e que tinham passagens na delegacia por violência, tráfico, furto ou roubo.
Parte dos casos que foram desvendados confirma essa tendência, ou seja, pessoas que se envolveram em disputas por espaço em atividades ilícitas.
Tanto que dos 18 crimes restantes, 11 estão solucionados, inclusive com inquéritos concluídos e autoria confirmada.
Há também nesta lista trágica, alguns motivos banais. Fatos como o de um adolescente de 16 anos, morto a tiros na região do Jardim São Jorge, dia 30 de novembro de 2018. O autor foi outro adolescente que revelou ter matado por ciúmes. Segundo o autor, a vítima teria tentado se aproximar de sua namorada.
Outros sete crimes ainda dependem de investigações. Conforme o delegado, a maioria deles tem indícios de autoria, mas carecem de mais provas.
A POSSE DE ARMAS – Outro cenário que colabora para a extrema violência é o número de armas ilegais existentes na cidade. A maioria desses armamentos entra no Brasil contrabandeada de país vizinho. Uma das soluções, aponta o delegado, é reforçar a operação nas fronteiras, dificultando o ingresso de armamentos.
Também há o caso de armas legalizadas e que foram furtadas ou roubadas. Nas duas situações, o bandido raspa ou pina a numeração, dificultando o rastreamento ou a relação com eventuais crimes.
Sobre a posse de arma, tema muito debatido no Brasil desde a campanha eleitoral do ano passado, Luiz Carlos Mânica faz uma reflexão. Ele é a favor da posse com registro legal e todos os requisitos para aquisição. Se posiciona contra o porte, isto é, o direito de levar a arma rotineiramente.
Pondera que a arma deva ser um instrumento exclusivamente de defesa em situações justificadas (defesa da vida, proteção de valores e segurança da família). Não deve, portanto, ser usada como instrumento de poder ou de forma indiscriminada em ações do dia a dia, nem mesmo com o objetivo de coação na solução de conflitos.
E segue o delegado argumentando que a desinformação ou a falsa noção de sutis diferenças, pode dificultar, afastar e até anular a busca de outras soluções menos violentas.
Ele propõe investimentos na informação, na educação, na cultura e na formação da família como instituições de conciliação e respeito, ferramentas capazes de promover a reflexão na solução de conflitos, inibindo casos de uso indiscriminado de arma de fogo. Esse conjunto, conclui, evitará tragédias em momentos de fúria.