Pede para sair…

O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, diz que quem, da equipe de governo, estiver envolvido na Operação Lava Jato ou similares, deve sair. Pela sua proximidade com o presidente Michel Temer, entende-se que essa seja a posição do governo.
Mesmo tendo dito que ser investigado não é ser denunciado ou processado (para justificar a nomeação de alguns envolvidos), Temer acaba perdendo tempo, resolvendo problemas da equipe, quando deveria estar atuando solução dos problemas nacionais. A fala de Padilha, sem dúvida, é o recado do presidente aos implicados: pede para sair.
Lamentavelmente, desenvolveu-se no Brasil democrático um sistema errático de constituição das estruturas político-administrativas. Ao eleger-se para o governo, o presidente, o governador e até mesmo o prefeito, monta o balcão de negócios onde barganha ministérios, secretarias e milhares de cargos de confiança em troca de votos parlamentares.
O fisiologismo se instala em todos os escaninhos do poder e a promiscuidade é estabelecida, com o Executivo tornando-se refém do Legislativo e este, por conta dos interesses dos seus integrantes, deixando de cumprir suas finalidades de fiscalização da coisa pública.
As práticas comprovadas no Mensalão e, ultimamente, no Petrolão, demonstram a verdadeira falência do regime representativo, pois os eleitos, em vez de dedicarem seus mandatos à causa pública e à representação do eleitorado, votam as matérias em troca de propinas e, via de regra, também se elegem às custas de dinheiro sujo pilhado de órgãos públicos e de estatais.
Vemos um governo que caiu por causa dessa má prática e dezenas de lideranças políticas envolvidas nas irregularidades. O governo, hoje provisório, também sofre do problema, pois é apenas sucessor e tem as mesmas origens, inclusive o lastro dos mesmos votos.
Pelo bem da Nação, aqueles que vierem a ter seus nomes citados em escândalos, deveriam se afastar antes de levarem a tensão de seus problemas para o seio do governo.
Para o momento, é muito válido o exemplo de Itamar Franco (que assumiu o governo no impeachment de Fernando Collor) e Henrique Hargreaves, seu chefe da Casa Civil. Ao surgirem afirmações de seu envolvimento em crimes apurados na CPI do Orçamento, Hargreaves pediu exoneração do cargo e Itamar aceitou. Passados três meses, com tudo esclarecido e sua inocência comprovada, voltou à Casa Civil e lá permaneceu até o final do governo.

*Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)