Petrobras nega redução dos preços da gasolina e do diesel

RIO DE JANEIRO – Em carta enviada a integrantes do conselho de administração da Petrobras, o presidente da estatal, Aldemir Bendine, disse que não há decisão sobre redução dos preços da gasolina e do diesel. As ações da empresa estavam em queda acentuada nas bolsas depois de informações sobre uma possível revisão dos preços.
No texto, ao qual a reportagem da Folha de S.Paulo teve acesso, Bendine diz que a companhia monitora permanentemente a composição de custos e o comportamento do mercado e debateu se a redução dos preços poderia reverter a retração das vendas, que chega a 10% este ano.
"Não houve qualquer avanço além disso – apenas um debate sobre a elasticidade do mercado neste momento e seus efeitos na nossa estratégia e nos nossos resultados", escreveu o presidente da Petrobras, em resposta a críticas de conselheiros sobre a possibilidade de redução nos preços.
Com a queda do preço do petróleo no mercado internacional, a gasolina e o diesel são vendidos no Brasil a preços superiores ao mercado internacional. As contas variam entre especialistas: de acordo com a Tendências, por exemplo, a diferença é hoje de 23,5% no caso da gasolina e de 42,7% no caso do diesel.
O Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) calcula que, na média mensal, a gasolina no Brasil foi vendida a um valor 24,8% superior ao verificado no mercado internacional. Já no caso do diesel, o prêmio da estatal é de 50,4%.
Entre os conselheiros da Petrobras, porém, é majoritária a visão de que a estatal não deve reduzir preços neste momento, sob o risco de prejudicar o processo de ajuste em suas contas. Com uma dívida de quase R$ 500 bilhões, a companhia vem cortando custos e investimentos para tentar sobreviver à crise.
"Estamos todos aqui, diretores e conselheiros, com o objetivo de atender única e exclusivamente os interesses da Petrobras", afirma Bendine, na carta, defendendo que "não há politização" nas discussões sobre o preço dos combustíveis.
VENDAS CAEM – A crise econômica no país faz com que as vendas de combustíveis registrem queda pela segunda vez consecutiva no primeiro bimestre. E dessa vez, a redução no comércio de diesel, gasolina e etanol é ainda maior.
Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), o total comercializado pelas distribuidoras nos dois primeiros meses caiu 5,5% – em 2015, a queda foi de 1,9%.
Combustível mais consumido no país devido ao peso do transporte rodoviário de cargas, o diesel apresentou queda de 6,6%. Mas houve redução também de etanol (-6,8%), que sofre com a entressafra de cana-de-açúcar, e da gasolina (-2,6%).
A diminuição é reflexo do movimento nas rodovias. Segundo o índice ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias), nos dois primeiros meses, houve queda de 4,6% no fluxo de veículos pesados nas rodovias e de 1,4% no de leves.
Nos últimos 12 meses, a redução atinge 5,1% nos pesados e 0,9%, nos leves. O índice é calculado com base no total de veículos que passam pelas praças de pedágio.
No caso do diesel, a venda desse combustível tem acompanhado o desempenho da economia na última década. Em 2007, por exemplo, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 6,1% e a comercialização do diesel aumentou 6,53%.
Nos dois anos de PIB negativo, o diesel seguiu o ritmo: em 2009, as vendas do ano todo caíram 1,03%, enquanto o PIB recuou 0,1% e, em 2015, as quedas foram de 4,69% e 4,77%, respectivamente.
Segundo o índice ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias), nos dois primeiros meses houve queda de 4,6% no fluxo de veículos pesados nas rodovias e de 1,4% no de leves. A taxa é calculada com base no total de veículos que passam pelas praças de pedágio.
"É uma situação compatível com a dinâmica industrial. O deslocamento de cargas depende do ritmo de produção. Como a produção está em retração, há arrefecimento no movimento nas rodovias", disse Luciano Bacciotti, economista da Tendências Consultoria, que calcula o índice em parceria com a ABCR. Em São Paulo, a retração é mais acentuada, de 6% no fluxo de veículos pesados.