PF identifica fraude em diplomas de médicos formados no exterior

CURITIBA e BRASÍLIA – A Polícia Federal identificou, em operação deflagrada ontem, fraude nos diplomas de 41 médicos formados no exterior que atuavam ou pretendiam atuar no país.
Os profissionais, a maioria brasileiros e alguns bolivianos, apresentavam certificados de três universidades da Bolívia, mas não concluíram o curso ou nem sequer foram alunos das instituições.
Dos 41, pelo menos dois já clinicavam, na Bahia e no Amazonas, segundo a PF.
Nem a polícia nem o governo federal, porém, informaram se algum deles participava do Programa Mais Médicos, que envia profissionais às áreas mais carentes do país. Os nomes dos envolvidos não foram divulgados.
O grupo está espalhado por 14 Estados: além de Bahia e Amazonas, estão em São Paulo, Rondônia, Acre, Alagoas, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul.
Os médicos foram flagrados ao prestarem, em agosto, um exame de revalidação do diploma na UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso). O teste não é obrigatório para participantes do Mais Médicos.
Foi a UFMT que acionou as universidades bolivianas e constatou o problema.
A instituição procurou então a PF, que verificou que 70% dos médicos se inscreveram no teste representados por cinco advogados ou despachantes. Eles também serão investigados.
Ontem, policiais cumpriram 41 mandados de busca e apreensão nas casas dos médicos, a fim de obter os documentos fraudulentos. Nenhum mandado de prisão foi emitido pela Justiça.
Os médicos suspeitos serão chamados para depor e podem ser acusados de uso de documento falso e falsidade ideológica, além de exercício ilegal da medicina.
Questionado sobre a operação, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, negou que ela tenha relação com o Mais Médicos, uma das principais bandeiras do governo Dilma Rousseff. "[Essa operação] É em cima de estudantes que falsificavam diplomas para poder participar da revalidação."
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também disse que as investigações da PF não atingiram o programa.
Padilha afirmou que o governo mantém "grande cooperação com a Polícia Federal" no Mais Médicos.
Segundo ele, os agentes federais analisam a documentação dos postulantes às vagas. "Se há algum problema, [o médico] é excluído".
O Ministério da Saúde disse que há "regras rígidas" para a classificação no programa – e que bolivianos não podem participar, já que o país tem índice de médicos inferior ao do Brasil.